### PONTOS CHAVE
- Cramberry são utilizados no tratamento de ITU recorrente, porém estudos são controversos e não existe padronização de dose.
- Esta foi uma meta-análise publicada em 2023 que mostra possível benefício para reduzir episódios de ITU em mulheres com ITU recorrente, crianças e pacietnes submetidos a alguma intervenção urológica (radioterapia por ex.).
- Não foi observado benefício para pacientes institucinalizados, gestantes ou adultos com disfunção vesical.
- Prescrição do Cramberry para prevenir ITU pode ser utilizadas em situações específicas, porém é importante compartilhar com os pacientes as limitações, custos e efeitos gastrointestinais.
O Cramberry é uma fruta nativa do leste da América do Norte que possui proantocianidina, uma substância que inibe as fimbrias da _Escherichia coli_, e desta forma, reduz a adesão de uropatógenos no epitélio da bexiga. Produtos à base de cramberry são utilizados no tratamento de prevenção de infecções do trato urinário (ITU) há várias décadas, porém sem eficácia totalmente comprovada.
Já existem inúmeros estudos na literatura, mas os estudos são controversos.
Em artigo publicado na **Cochrane Database of Systematic Reviews** (link) em 17 de Abril de 2023 os autores conduziram uma nova meta-análise. Foram revisados estudos randomizados que avaliaram o efeito de proteção do cramberry para ITU em pessoas em uso (fruta, comprimidos ou cápsulas).
Foram 50 estudos avaliados, sendo um total de 8.857 pacientes avaliados para intervenção com cramberry _vs_ placebo ou nenhuma intervenção.
Foi observado com grau de evidência moderado um efeito de redução do risco de ITU em pessoas que estavam em uso de produtos com cramberry (RR 0.70, 95% IC 0.58 - 0.84; I² = 69%). Quando divididos em grupos foi observado um efeito em **mulheres com ITU recorrente** (RR 0.74, 95% IC 0.55 - 0.99; I² = 54%), **crianças** (RR 0.46, 95% IC 0.32 - 0.68; I² = 21%) e **pessoas susceptíveis devido alguma intervenção** (RR 0.47, 95% IC 0.37 - 0.61; I² = 0%).
Bom baixo nível de certeza foi observado pouco ou nenhum benefício para **homens institucionalizados** (RR 0.93, 95% IC 0.67 - 1.30; I² = 9%), **gestantes** (RR 1.06, 95% IC 0.75 - 1.50; I² = 3%) ou **adultos com disfunção vesical** (RR 0.97, 95% CI 0.78 - 1.19; I² = 0%).
Foi realizado comparação com outros tratamentos, não sendo observado diferenças na prevenção de ITU quando comparado com antibióticos (RR 1.03, 95% IC 0.80 -1.33; I² = 0%). Porém foi observado maior efeito de redução do risco de ITU quando comparado cramberry com probióticos (RR 0.39, 95% IC 0.27 -0.56; I = 0%).
## OPINIÃO NEFROATUAL
Nesta atualização de meta-análise sobre o tema, totalizando 50 estudos, foi demonstrado alguma **evidência de benefício do uso de produtos à base de cramberry** para reduzir o risco de ITU sintomática em **mulheres**, **crianças** e **pessoas susceptíveis após alguma intervenção**. Não foi observado benefício para idosos, gestantes ou pacientes com problemas de esvaziamento vesical.
Produtos à base de cramberry (suco, comprimidos ou cápsulas) vêm sendo utilizados há várias décadas, porém com benefício incerto e sem uma padronização de dose.
Até o momento não é indicado o tratamento com cramberry de forma rotineira para reduzir o risco de cistite recorrente, apesar do mecanismo biológico plausível, os dados dos estudos disponíveis não são definitivos. Existe a necessidade de estudos que comparem cramberry com antibióticos profiláticos, que é são o tratamento padrão para casos de ITU recorrentes.
De uma forma geral, devemos prescrever produtos à base de cramberry em situações específicas, principalmente se o paciente entender as limitações, possuir condições financeiras e tolerar bem o tratamento, muitos pacientes reclamam dos efeitos gastrointestinais.