### PONTOS CHAVE
- Semaglutida é um análogo de GLP-1 - que vem revolucionando o tratamento do DM2 e Obesidade.
- O benefício renal vem sendo sugerindo em reanalises dos grandes estudos, sugerindo um benefício em reduzir o declínio da TFGe e proteinúria.
- Neste estudo foi observado uma atenuação nos pacientes que receberam semaglutida (oral e SC). Foi observado benefício na DRC estágio 3 e 4.
Esta foi a pergunta feita pelos autores do estudo “**Post hoc analysis of SUSTAIN 6 and PIONEER 6 trials suggests that people with type 2 diabetes at high cardiovascular risk treated with semaglutide experience more stable kidney function compared with placebo**” publicado no Kidney International em fevereiro de 2023.
Sabemos que para responder esta questão seriam necessários estudos clínicos específicos. No entanto, os autores utilizaram análise de dois grandes estudos com a semaglutida subcutânea, o SUSTAIN 6 ([link](http://refhub.elsevier.com/S0085-2538(23)00056-X/sref8)) e a semaglutida oral, PIONEER 6 ([link](http://refhub.elsevier.com/S0085-2538(23)00056-X/sref9)) para avaliar esta hipótese.
Apenas um pequeno resumo dos estudos para vocês não ficarem perdidos:
O SUSTAIN 6 (2016) e o PIONEER (2019) foram publicados no NEJM. Ambos foram randomizados e avaliaram adultos com DM2 e alto risco de eventos cardiovasculares. Nestes estudos os participantes foram randomizados para uso de **semaglutida ou placebo**, além do tratamento padrão. O alto risco CV foi definido como idade de > 50 anos + Doença CV estabelecida **ou DRC**, ou idade de > 60 anos com fatores de risco CV. Os critérios de exclusão para ambos os estudos incluíam DRC em TRS. No PIONEER 6 foram excluídos pacientes com TFGe <30 ml/min por 1,73 m2.
No SUSTAIN 6, os indivíduos receberam a forma subcutânea (SC) da semaglutida 0,5mg ou 1,0mg uma vez por semana, enquanto os participantes PIONEER 6 receberam a semaglutida oral uma vez ao dia 14 mg. Em ambos os estudos o desfecho composto primário foi a primeira ocorrência de morte cardiovascular, infarto do miocárdio não fatal ou acidente vascular cerebral não fatal.
Agora vamos ao artigo atual.
Nesta análise _post hoc_ que estamos discutindo, os dados do SUSTAIN 6 e PIONEER 6
foram agrupados por tratamento (semaglutida ou placebo) e analisados de forma geral e em subgrupos baseados na TFGe basal: 30 – 60 mL/min/1.73 m2 ou > 60 mL/min por 1,73 m2 para eficácia e <60 ml/min por 1.73 m2 ou > 60 ml/min por 1.73 m2 para segurança). Todos os dados também foram estratificados pelo uso de inibidores do sistema renina-angiotensina (RAS). Os dados dos participantes com TFGe <30 mL/min por 1.73 m2 foram incluídos nas análises (apenas do SUSTAIN 6).
**Vamos aos resultados!**
O SUSTAIN 6 e PIONEER 6 incluíram 6.480 participantes, dos quais 3.239 receberam semaglutida e 3.241 receberam placebo; Cerca de 80% dos pacientes estavam em uso de IECA/BRA.
A queda da TFGe anual foi atenuada com o uso da semaglutida como mostra as figuras abaixo.
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Este efeito foi observado tanto nos subgrupos 30-60 e > 60mL/min/1.73m2
Na discussão, os autores sugerem que a semaglutida pode ter efeito benéfico na TFGe e na progressão da DRC em pacientes com DM2 por diferentes mecanismos ainda não elucidados. Possíveis mecanismos são independentes da Hb glicada, da perda de peso e da pressão arterial e estão associados à diminuição da inflamação renal como: diminuição da albuminúria, da lesão tubular, do hiperfluxo e da ativação macrofágica. Os efeitos colaterais não foram diferentes daqueles do TGI já conhecidos e a hipoglicemia não foi mais comum em pacientes com DRC.
As limitações são de um estudo retrospectivo _Post Hoc_ e do curto tempo de acompanhamento dos pacientes.
## OPINIÃO NEFROATUAL
Certamente esta classe de drogas (agonistas GLP-1) são ainda pouco estudadas como os iSGLT2 para serem prescritas com intuito de diminuir os desfechos renais. No entanto, abre-se o caminho para pensarmos nessa classe de drogas como uma forma adicional de reduzir o risco de progressão da DRC. Estudos futuros como a população renal crônica já estão em fase de alocação, dentre eles destacam-se: o estudo FLOW (A Research Study to See How Semaglutide Works Compared to Placebo in People With Type 2 Diabetes and Chronic Kidney Disease NCT03819153) e o REMODEL (A Research Study to Find Out How Semaglutide Works in the Kidneys Compared to Placebo, in People with Type 2 Diabetes and Chronic Kidney Disease NCT04865770).
As limitações práticas ainda são: custo e sintomas gastrointestinais. Quem sabe no futuro não teremos: iECA/BRA + iSGLT2 + Agonista GLP1 + Finernone com efeito aditivo entre eles?
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