A compreensão sobre o acompanhamento de pacientes portadores de variantes patogênicas (mutações) nos genes do colágeno IV (COL4A3 e COL4A4) é essencial para o manejo adequado e a prevenção de progressão da doença renal. Essas variantes, relacionadas à síndrome de Alport, apresentam ampla variabilidade clínica, exigindo estratégias individualizadas para monitoramento.
Quando realizamos o diagnóstico (clínico e/ou genético) de um paciente com forte suspeita de síndrome de Alport devemos monitorar os familiares sob risco de também terem a doença. O teste genético muitas vezes não está disponível, mas podemos utilizar a seguinte abordagem baseado nas recomendações do guideline “Diagnosis, management and treatment of the Alport syndrome – 2024 guideline on behalf of ERKNet, ERA and ESPN” ([link](https://watermark.silverchair.com/gfae265.pdf?token=AQECAHi208BE49Ooan9kkhW_Ercy7Dm3ZL_9Cf3qfKAc485ysgAAA2MwggNfBgkqhkiG9w0BBwagggNQMIIDTAIBADCCA0UGCSqGSIb3DQEHATAeBglghkgBZQMEAS4wEQQMfY0m_PXEIERus2eDAgEQgIIDFvm_oLrtVBK4WUXSF_VYRdHW91gocZN5ABCk2S_62Bw5AF4GRye6aHTExqVQKbivTk0BijZYt1iCXh69HA8rCPnk5yWAa8y80079DTIewVXwoNd7pl4Y2kUF8k5JoVXcGFPl81XrnLRkn8BKGZRejS5dleT6EEKGVZprdf7zvEw6mskrnwhIXN4nHYlJTb3EASc_81GGS9_8f40XfGEFgAOa66gWNXvE9bPsKtiir0pFK9yjtDSQBgKjD8eQ9kyUEz6MBV52GvGcU_9WykB5OS9ZXzRYfDP3IAYkicaEirZO5zBrZfEvP8JDduwIZROANCl5lHtuh78aBZ7sv8Cbw0oGy3--umznHu_8xQ7COdWfOVMfVzepUezMnbX0NTO9sNF8eLxNz7raxC13swgdj2pCPDHmQxfwob4kqRIZ-_qsLm-BP1XebdoY-mrbrtaaAvlIzYYwIM4GfvAcSR0FsbMO-zwdlEKFBhMF6b4RWtL69kr6MvWpiGBZ9IdvfOnIMo8c0FEmB7yENePngDj7mwXUMFfr0dDsLvtq17swH-TSEJm_6Yz5JMn56VT5I4gLpbSU0z9Jiqk02WcJEFvP5Go_J8e9oiLGU1imF61q7F5FFqVnKO8GuNXYFDUeLhuvDvcUvcozzXZw15nvhmctp5-wFj3zjAx3VvWDJgIzcRk9r39pf8Cn39M4ouCe0zGY7ENFwmx6CkNCXTfGK7u0plfv0e82R1SUZeVzVpezWX_kYZj-zilEPhABzUylZ7L82qHckGc-B1SpKxxrEapnhiAcfM8C2iUlSl8i32m3234kUG8zV-_mvxP_6ON-nA4NooYsYM4bJUCKATJH9lf_JhL17xz2o6q6QT0z1H6FgzqJOkqw5jKR5iGlRZYKwoJfavOq13WmkDEzUza79Ibn0uZTIgWk6_OvZsLYhTfGj_3VNdlnismv4I_9LvtahAerLLoZny-xu3r-DWAt_mzrDTxde9UQruDXqGQFjaHNxuGife2P5uskome8OU-Po5d36W66HWQX5NV1x5T96ySW2lckfIznK9s)).
Recomendações de Acompanhamento
1\. Adultos Assintomáticos (com diagnóstico genético)
Recomenda-se triagens regulares, com intervalos de 1 a 2 anos, para detectar micro-hematúria e microalbuminúria, usando a razão albumina/creatinina urinária (RAC), além do monitoramento anual da pressão arterial. A periodicidade deve considerar idade, histórico familiar e comorbidades.
2\. Indivíduos com Microalbuminúria (RAC > 30 mg/g em duas amostras)
Após o início de inibidores do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA), é sugerido monitoramento semestral ou anual da taxa de filtração glomerular estimada (TFGe) e microalbuminúria. Para pacientes em estágios de doença renal crônica (DRC) G2 a G5, o intervalo deve ser mais frequente.
3\. Crianças em Risco ou Diagnosticadas com Variantes Heterozigotas
Recomenda-se a realização de exames de urina a cada 1 a 4 anos em crianças de 4 a 6 anos diagnosticadas com variantes patogênicas ou provavelmente patogênicas nos gentes COL4A3/COL4A4, especialmente em casos de hematúria persistente.
Variabilidade Clínica e Riscos de Progressão
Portadores de mutações em heterozigose apresentam um espectro clínico que varia de assintomático a quadros de hematúria isolada ou desenvolvimento proteinúria, hipertensão e eventual disfunção renal. A progressão para falência renal ocorre em uma minoria dos casos, sendo o risco estimado de DRC G5 aos 60 anos inferior a 3%. Estudos populacionais indicam prevalência elevada dessas variantes em indivíduos sem sinais clínicos evidentes, sugerindo que muitos casos sejam subdiagnosticados.
Evidências Epidemiológicas
Em uma coorte de 252 indivíduos com mutações (variantes patogênicas/provavelmente patogênicas), 92% apresentaram micro-hematúria e 65% proteinúria. Cerca de 25% progrediram para falência renal com idade mediana de 67 anos. Resultados semelhantes foram observados em uma revisão sistemática de 777 indivíduos, na qual a prevalência de micro-hematúria foi de 94,8% e proteinúria de aproximadamente 46,4%.
Resumo Prático
Portadores de variantes heterozigotas COL4A3/COL4A4 exigem acompanhamento regular baseado no estágio clínico, com foco em triagem urinária, função renal e controle pressórico. O monitoramento preventivo pode reduzir o risco de progressão para estágios avançados da DRC, promovendo intervenções precoces e melhoria na qualidade de vida.