A síndrome nefrótica (SN) está associada a um alto risco de tromboembolismo, tornando a tromboprofilaxia um aspecto crítico do manejo desses pacientes. A escolha entre anticoagulantes orais diretos (DOACs) e antagonistas da vitamina K ainda é controversa. Este post explora as evidências mais recentes sobre a segurança e eficácia dessas opções terapêuticas.
##### Contexto e Mecanismo da Hipercoagulabilidade no SN
A SN gera um estado de hipercoagulabilidade devido a perda urinária de proteínas reguladoras da coagulação, como antitrombina III e proteína S, além do aumento da produção hepática de fatores pró-coagulantes. Isso favorece o desenvolvimento de eventos trombóticos venosos e arteriais, com incidência variando entre 2% e 37%. Esse risco é maior principalmente nos pacientes com hipoalbuminemia mais intensa e nefropatia membranosa.
O KDIGO orienta início de profilaxia para TEV se:
1) Albumina sérica <2 g/l ou
2) <2,5 g/l no paciente com nefropatia membranosa
Mas uma vez indicado a profilaxia um ponto que gera muita confusão é qual anticoagulante escolher?!
##### Estudo Comparativo: DOACs vs. antagonistas da vitamina K
Recentemente foi publicado no KI Reports um importante estudo retrospectivo ([link](https://www.kireports.org/article/S2468-0249(25)00118-4/fulltext)) que analisou 133 episódios de SN em pacientes que receberam profilaxia anticoagulante entre 2006 e 2023. Destes, 51 foram tratados com DOACs e 82 com antagonistas da vitamina K. O desfecho primário avaliou a ocorrência de trombose e eventos hemorrágicos significativos.
* Resultados Principais: Não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos em termos de incidência de eventos trombóticos e sangramentos graves.
* Eventos Trombóticos: Ocorreu em 2 pacientes tratados com DOACs e nenhum no grupo antagonistas da vitamina K (p=0,145).
* Eventos Hemorrágicos: Apenas os pacientes tratados com antagonistas da vitamina K apresentaram sangramentos maiores (3,7%) ou clinicamente significativos (4,9%), enquanto nenhum paciente no grupo DOAC apresentou esses eventos (p=0,045).
* Tempo de Anticoagulação: Os pacientes no grupo Antagonistas da vitamina K tiveram um tempo de anticoagulação significativamente mais longo em comparação com os que usaram DOACs (p=0,011).
##### Implicações Clínicas
Os achados deste estudo sugerem que os DOACs podem ser uma alternativa viável aos antagonistas da vitamina K para tromboprofilaxia no SN, com um perfil de segurança favorável. Entretanto, estudos randomizados controlados são necessários para validar esses achados e estabelecer diretrizes mais precisas.