📌 A angiografia com fluoresceína é amplamente utilizada na retinopatia diabética, mas ainda gera dúvidas quanto à sua segurança em pacientes com doença renal crônica (DRC). Este post traz evidências científicas recentes que ajudam a esclarecer esse cenário clínico importante para o nefrologista.
O que é a angiografia com fluoresceína?
A fundoscopia com angiografia fluoresceínica (AF) é um exame essencial na avaliação de microvasculatura da retina, especialmente em pacientes com retinopatia diabética (RD). A fluoresceína, corante não iodado, é eliminada predominantemente pelos rins, o que levanta preocupações sobre sua segurança em pacientes com disfunção renal
O risco de nefrotoxicidade: o que dizem os estudos?
🧪 Estudo de Ebrahimiadib et al. (2023) – Prospectivo, Irã ([link](https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC10172804/pdf/jovr-18-170.pdf))
* Avaliou 42 pacientes diabéticos com DRC (estágios 3 a 5).
* A creatinina sérica foi mensurada antes e 48-72h após a AF.
* Critério de injúria renal aguda (IRA): aumento ≥ 0,5 mg/dL ou 25% da creatinina basal.
Resultados:
* Nenhum paciente apresentou LRA após o exame.
* Creatinina, ureia e TFGe permaneceram estáveis.
* O volume de fluoresceína utilizado foi de 250 mg (dose reduzida).
* Conclusão: a AF não resultou em piora da função renal, mesmo em estágios avançados de DRC.
📊 Estudo de Kameda et al. (2009) – Retrospectivo, Japão ([link](https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/19246582/))
* Analisou 128 pacientes diabéticos com TFGe <60 mL/min/1,73 m².
* Creatinina medida até 30 dias antes e após a AF.
* Classificados nos estágios 3, 4 e 5 da DRC.
Resultados:
* Não houve diferença significativa nos valores de TFGe pré e pós-AF em nenhum estágio da DRC.
* A média de TFGe foi de 35,5 ± 12,4 antes e 36,1 ± 13,6 após o exame (p = 0,168).
* Conclusão: a AF não induziu disfunção renal mesmo em pacientes com doença renal avançada.
Pontos relevantes para a prática nefrológica
1. Fluoresceína não é um meio de contraste iodado, o que já reduz substancialmente o risco de nefrotoxicidade em comparação com contrastes radiológicos tradicionais.
2. Pacientes diabéticos com DRC costumam ter indicação simultânea para angiografia devido à coexistência de RD e nefropatia.
3. Em ambos os estudos, não foi necessário suspender ou ajustar o procedimento com base em função renal.
4. Como nefrologistas não devemos ter receio em liberar a realização do exame, tendo em vista o benefício em guiar o tratamento oftalmológico. A literatura atual mostra que é um exame seguro para pacientes com DRC, inclusive em estágios avançados.