Confere esse caso publicado no AJKD ([link](https://www.ajkd.org/article/S0272-6386\(16\)30555-8/fulltext))
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Homem de 53 anos, portador de diabetes mellitus e hipertensão, apresentou elevação da creatinina e o surgimento de proteinúria. Negou exposição a AINEs, contraste ou outros agentes nefrotóxicos.
A creatinina estava em 1,86 mg/dL, correspondendo a uma taxa de filtração glomerular estimada (TFGe) de 35 ml/min/1,73m². No entanto, seis meses antes, a creatinina era 1,42 mg/dL, e 12 meses antes, era 0,76 mg/dL. O exame de urina revelou hematúria moderada e albuminúria (1 g/l), com relação proteína-creatinina de 1,8 g/g de creatinina, além de cilindros hemáticos, cilindros granulares e leucócitos.
Exame de imagem evidenciava rins de aspectos normais.
O paciente estava em uso crônico de telmisartana, linagliptina, metformina e anlodipino. Ele mencionou que a última medicação iniciada foi a rosuvastatina 40 mg/dia, há 14 meses, para prevenção primária de coronariopatia.
Diante desse quadro, o paciente foi submetido à biópsia renal. A análise histológica revelou 18 glomérulos, nenhum globalmente esclerosado, alguns com leve enrugamento da parede capilar, sem aumento na matriz mesangial ou celularidade mesangial, e sem hipercelularidade endocapilar. Observou-se ectasia luminal, perda da borda em escova e coloração citoplasmática variada, sugerindo toxicidade tubular proximal. Identificou-se também edema intersticial leve e inflamação, mas sem tubulite, com fibrose intersticial leve (10% - 15%). Imunofluorescência direta não apresentou coloração para imunoglobulina G (IgG), IgA, IgM, C3, C1q ou cadeias leves kappa ou lambda. A microscopia eletrônica não mostrou depósitos glomerulares eletrondensos, mas identificou túbulos proximais com desnudamento, sem alterações mitocondriais específicas.
Diante do achado histológico compatível com lesão tubular, considerou-se a possibilidade de lesão induzida por drogas. Como a rosuvastatina era o medicamento mais recentemente introduzido e exista uma plausibilidade temporal e associação com a lesão tubular, optou-se pela suspensão da rosuvastatina, ocorrendo melhora de função renal, conforme demonstrado na imagem abaixo.
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Aprendizado com este relato de caso:
Trata-se de um caso raro de lesão renal subaguda associada ao uso de rosuvastatina em dose elevada. O diagnóstico de lesão tubular foi confirmado por meio da histologia, e a interrupção do medicamento resultou em melhora da função renal, sendo assim estabelecido o diagnóstico.
Alguns relatos de caso destacam o risco de lesão renal em pacientes em uso de rosuvastatina em alta dose. Além disso, estudos têm demonstrado uma associação entre uso da rosuvastatina e desfechos compostos, como rabdomiólise, proteinúria e insuficiência renal, em comparação com outras estatinas (atorvastatina, sinvastatina e pravastatina).
Doses de rosuvastatina superiores a 10 mg/dia representam um fator de risco para internação por insuficiência renal aguda, quando comparadas às estatinas de baixa intensidade. Adicionalmente, estudos de fase 3 que utilizaram rosuvastatina em dose de 80 mg/dia evidenciaram um aumento do risco de proteinúria e hematúria.
Aprendizado, apesar de raro, devemos considerar lesão renal induzida por rosuvastatina.