A hipomagnesemia é uma complicação frequente em pacientes com doença renal crônica e diabetes, representando desafios terapêuticos significativos. Este caso clínico destaca o potencial do sotagliflozina, um inibidor dual dos cotransportadores sódio-glicose (SGLT1 e SGLT2), no manejo de hipomagnesemia severa e refratária, com resultados promissores.
##### Apresentação do Caso ([link](https://www.kireports.org/article/S2468-0249(24)03419-3/fulltext#fig1))
Um paciente de 63 anos com histórico de doença renal crônica (creatinina sérica de 1,6 mg/dL) e diabetes tipo 2 apresentou episódios recorrentes de hipomagnesemia severa (<1,2 mg/dL) por mais de oito anos. Mesmo com suplementação oral máxima de magnésio, ele necessitava frequentemente de internações para administração de sulfato de magnésio intravenoso (IV MgSO4). Realizado investigação com testes genéticos para identificar causas hereditárias de hipomagnesemia, porém não foi identificado variantes patogênicas.
O paciente foi inicialmente tratado com dapagliflozina 5 mg/dia, resultando em redução parcial das crises de hipomagnesemia, mas os episódios severos persistiram. Posteriormente, foi introduzido o sotagliflozina (200 mg/dia), o que levou à ausência de novos episódios de hipomagnesemia severa por 12 meses. Além disso, observou-se aumento significativo nos níveis séricos de magnésio, mesmo com a redução da suplementação oral.
Achados Relevantes
* O uso do sotagliflozina foi associado a aumento dos níveis séricos de magnésio de 1,11 ± 0,09 mg/dL para 1,55 ± 0,13 mg/dL (p < 0,0001), com normalização clínica e laboratorial.
* Esse efeito ocorreu sem redução significativa da excreção fracionada de magnésio (FEMg), sugerindo um possível mecanismo de ação mediado pela absorção intestinal e influência em fatores sistêmicos, como o glucagon.
* O paciente apresentou melhora clínica sem eventos adversos relevantes durante o acompanhamento.
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##### Discussão
Este caso reforça o papel potencial dos inibidores SGLT, especificamente o sotagliflozina, no manejo de condições complexas como a hipomagnesemia refratária, indo além de seu uso convencional em diabetes e proteção renal. A modulação do transporte de magnésio pode ocorrer tanto no nível renal quanto intestinal, destacando a importância de estudos adicionais para elucidar esses mecanismos e expandir as indicações terapêuticas.