Na atualidade está cada vez mais comum a avaliação de pacientes com hipercalcemia associada a injeções cosméticas de substâncias como silicone e polimetilmetacrilato (PMMA), ambas não aprovadas pelo FDA para aumento corporal, mas amplamente utilizadas em procedimentos estéticos, como aumento de nádegas e seios.
A hipercalcemia, uma condição rara e grave, pode surgir anos após as injeções, sendo mediada por granulomas
que induzem a produção anômala de calcitriol por macrófagos ativados. Em artigo de revisão Tachamo et al ([link aqui](https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29453201/)) identificou 23 pacientes, em sua maioria mulheres, com uma média de 49,8 anos, que apresentaram hipercalcemia após um período médio de 08 anos do procedimento estético.
Entre os sintomas mais comuns relatados estavam fadiga, fraqueza muscular, poliúria e perda de peso. Os níveis de cálcio corrigido apresentavam-se significativamente elevados, com uma média de 3,43 mmol/L, enquanto a maioria dos pacientes exibia níveis suprimidos de paratormônio (PTH), confirmando o diagnóstico de hipercalcemia não mediada por PTH. A complicação mais prevalente foi a insuficiência renal aguda, observada em 82,35% dos casos. O manejo foi predominantemente conservador, com o uso de hidratação intravenosa e corticosteroides, e, em alguns casos, bifosfonatos. A taxa de recorrência da hipercalcemia foi de 45,45%, com dois óbitos devido a complicações relacionadas.
O estudo destaca a importância de considerar granulomas induzidos por injeções cosméticas como uma possível causa de hipercalcemia não maligna, especialmente em mulheres que apresentam elevação de calcitriol. A identificação precoce e o tratamento oportuno são fundamentais para prevenir complicações graves, como insuficiência renal e mortalidade.
10 Dicas Práticas para Abordagem de Pacientes com Hipercalcemia Associada a Injeções Cosméticas:
1. Etiologia: A hipercalcemia decorre de granulomas induzidos por injeções cosméticas; a dosagem de
calcitriol pode auxiliar no diagnóstico, com níveis de PTH tipicamente suprimidos.
2. Sintomas: Os sintomas são decorrentes da hipercalcemia, sendo frequente a presença de poliúria, astenia e
fraqueza muscular.
3. Tratamento Inicial: Nos casos de hipercalcemia aguda, o tratamento deve ser iniciado com hidratação venosa,
associado ao uso de corticosteroides (prednisona 20-40 mg/dia), baseando-se no manejo de sarcoidose, outra condição granulomatosa.
4. Bifosfonatos: O uso de bifosfonatos deve ser considerado conforme a gravidade da hipercalcemia para
ajudar a reduzir os níveis de cálcio.
5. Denosumabe: Casos graves e refratários de hipercalcemia, especialmente associados à disfunção renal
severa, podem ser tratados com denosumabe.
6. Recorrência: A recorrência após a redução de corticosteroides é comum (\~50% dos casos). Nestes casos, deve-se considerar a retirada dos implantes, quando possível.
7. Monitoramento: Monitorar os níveis de cálcio e o estado clínico dos pacientes durante o tratamento, ajustando as doses de corticosteroides conforme necessário.
8. Imagens: Exames de imagem, como PET/CT, podem ser úteis para identificar granulomas ativos e guiar o manejo.
9. Prevenção: Promover a conscientização sobre os riscos das injeções cosméticas não regulamentadas e a necessidade de acompanhamento médico adequado para evitar complicações graves.
10. Podemos orientar outras etapas do tratamento comuns as doenças granulomatosas envolvem:
* Reduzir a ingestão de cálcio (não mais que 400 mg/dia)
* Redução da ingestão de oxalato
* Eliminação de suplementos, dietéticos de vitamina D
* Evitar a exposição solar
Essas recomendações são fundamentais para o manejo adequado da hipercalcemia associada a injeções cosméticas e podem ajudar a minimizar complicações e recorrências, além de melhorar os desfechos clínicos. Diantes de casos com refratários ou com recidivas frequentes com uso de corticoide em que não possível a retirada cirúrgica, devemos considerar o uso de agentes poupadores de corticóide, as opção são: cetoconazol oral, inibidores de calcineurina e hidroxicloroquina.
O acompanhamento deve ser contínuo, casos de hipercalcemia crônica, mesmo que assintomática, podem
evoluir com ocorrência de nefrolitíase e/ou nefrocalcinose. Devemos monitorar hipercalciúria nesses pacientes