Recentemente, a cistatina C sérica surgiu como um biomarcador alternativo para avaliarmos a função renal de forma mais precisa em combinação com a creatinina. A cistatina C é livremente filtrada pelo glomérulo, mas é significativamente menos dependente da massa muscular e da dieta e, portanto, pode ser mais informativo em idosos adultos. No entanto, obesidade, inflamação aguda, uso de corticosteroides e doenças da tireoide podem elevar os níveis séricos de cistatina C independentemente da TFG.
O estudo intitulado "Large discordance between creatinine-based and cystatin C-based eGFR is associated
with falls, hospitalizations, and death in older adults" investigou a discrepância entre as taxas de filtração glomerular estimadas (eGFR) com base na creatinina (TGFe-cr) e na cistatina C (TGFe-cys) em adultos mais velhos
(>65 anos). Foram avaliados eventos comuns nessa população: morte, quedas, farturas de quadril e hospitalização ([link aqui](https://journals.lww.com/cjasn/abstract/9900/large_discordance_between_creatinine_based_and.446.aspx)).
Uma discrepância importante, definida como uma TFGe-cys >30% menor que a TFGe-cr, foi encontrada em 30%
dos 5574 participantes do estudo, sendo mais prevalente em mulheres, idosos, raça branca, obesos e tabagistas.
Os resultados mostraram que a prevalência de grandes discrepâncias aumentou com a idade, sendo 20% entre
aqueles com 65-69 anos para 44% entre aqueles com 80 anos ou mais. No seguimento de 02 anos o achado de discrepância foi associado a um aumento significativo no risco de quedas, hospitalizações e morte, independentemente da função renal subjacente. Os indivíduos com essa discrepância apresentaram uma razão de risco ajustada (HR) de 1,43 para morte e maiores chances de quedas e hospitalizações (OR 1,32 para ambos). No entanto, não foi encontrada uma associação significativa com fraturas de quadril.
Esses achados destacam a importância de avaliar as discrepâncias entre TGFe-cr e TGFe-cys na prática clínica, especialmente em pacientes idosos, pois podem fornecer informações adicionais sobre a fragilidade e o risco de eventos adversos, além da função renal tradicionalmente avaliada.
Opinião Nefroatual:
Para os nefrologistas, o reconhecimento da discrepância entre TGFe-cr e TGF-cys pode ser muito interessante para identificar pacientes idosos em maior risco de quedas, hospitalizações e morte. A integração dessa avaliação pode melhorar a estratificação de risco e orientar intervenções preventivas mais eficazes, principalmente nos pacientes mais idosos.
A possível justificativa para tal achado é que a diferença entre TFG-cr e TFG-cys >30% é um indicativo de
sarcopenia e fragilidade, marcadores de eventos adversos. Além de estimar de forma mais precisa a TFG, essa diferença nos indica pacientes que podemos estimar um maior risco de queda e fraturas e assim realizar medidas ativas!
Outra hipótese é a Shrunken Pore Syndrome (Síndrome do Poro Encolhido) é uma condição proposta que descreve uma anormalidade nos poros da membrana endotelial glomerular, a redução das fenestrações endoteliais leva a uma redução da capacidade de filtrar proteínas com 5-40kD.