A variabilidade glicêmica em pacientes com diabetes tipo 2 (DM2) e doença renal crônica (DRC) eleva o risco
de crises hipoglicêmicas e hiperglicêmicas, potencialmente levando a hospitalizações. Este estudo que vamos resumir explorou o impacto do monitoramento contínuo de glicose na redução dessas hospitalizações.
Primeiro vamos entender a limitação atual no controle da glicemia no paciente com DRC e DM2:
O ambiente urêmico causa aumento da resistência à insulina, o que pode aumentar o risco de crises hipoglicêmicas
e hiperglicêmicas, especialmente naqueles com doença renal em estágio avançado. O monitoramento adequado do controle glicêmico é fundamental para retardar complicações macro e microvasculares.
Comumente avaliamos o controle glicêmico por meio da medição da hemoglobina glicada (HbA1C), mas as limitações são inúmeras, com anemia, uso de EPO, transfusões sanguíneas e uremia, que podem
contribuir valores errados de HbA1C.
Sistemas de monitoramento contínuo de glicose (MCG), que medem os níveis de glicose no líquido intersticial por até 14 dias e fornecem valores de glicose a cada 1–5 minutos, demonstraram ser seguros e eficazes em pessoas com DM2 em tratamento intensivo terapia com insulina. Atualmente a Associação Americana de Diabetes recomenda o uso do MCG.
Este estudo ([disponível aqui](https://journals.lww.com/kidney360/fulltext/2024/04000/continuous_glucose_monitoring_and_reduced.8.aspx)) realizou uma análise retrospectiva de dados de reivindicações administrativas norte americano da base de dados Optum Clinformatics, envolvendo indivíduos com DM2 insulino-dependente e DRC estágio 3–5 que iniciaram o uso do MCG entre janeiro de 2016 e março de 2022. Foram analisadas as taxas de hospitalizações relacionadas ao diabetes antes e após a iniciação do MCG, com ajustes multivariáveis para identificar preditores de encontros hipoglicêmicos e hiperglicêmicos. Foram excluídos pacientes em diálise, com FAV e gestantes.
Os pacientes necessitavam ter um seguimento nos 12 meses anteriores ao uso do CGM e 12 meses posteriores ao
início do MCG.
Resultados:
O estudo incluiu 8.959 pacientes, a maioria em uso de regime intensivo de insulina (91,3%) e com DRC estágio 3
(86%). A população era composta por pacientes complexos, com uma pontuação média de comorbidade de Charlson de 3.77 ±2.03.
Após a adoção do MCG, observou-se uma redução significativa nas taxas de hospitalizações por hiperglicemia
(18,2%) e hipoglicemia (17,0%). Entre os pacientes com DRC estágio 3 ou 4, houve redução de quase 20% nas internações por eventos relacionados a hipoglicemia e redução aproximadamente 18% nas internações por eventos relacionados a hiperglicemia. Houve também uma redução significativa hospitalizações por
hiperglicemia entre indivíduos com DRC estágio 5.
Opinião Nefroatual:
A implementação do MCG em pacientes com DM2 e DRC estágio 3–5 está associada a uma redução substancial
nas hospitalizações relacionadas ao diabetes. Esses resultados reforçam as diretrizes da ADA e KDIGO, que recomendam o uso do MCG com estratégia para alcançar metas glicêmicas e reduzir o risco de crises glicêmicas.
O CGM representa uma importante ferramenta no controle do diabetes em pacientes com DRC estágio 3-5, contribuindo para o controle glicêmico e redução de eventos adversos graves. Seria interessante estudos que avaliem se o uso de CGM pode contribuir em retardar a progressão da DRC.