Vale muito a pena a leitura desse editorial no JASN ([link aqui](https://journals.lww.com/jasn/fulltext/9900/proton_pump_inhibitors_and_ckd__the_evidence.335.aspx))
O uso de inibidores da bomba de prótons (IBPs) é amplamente difundido, sendo utilizado no tratamento de doenças gastroesofágicas. No entanto, seu uso a longo prazo pode estar associado a riscos, incluindo deficiências nutricionais, fraturas ósseas e infecções. Estudos observacionais sugerem uma associação entre o uso de IBPs e um risco aumentado de doença renal crônica (DRC). Mas na prática devemos nos preocupar?
Em 2016 foi publicado um dos principais estudos apontando o risco de progressão de DRC associado aos IBP em
duas coorts([link aqui](https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26752337/)), desde então outros estudos observacionais encontraram evidencias semelhantes. Em análise post hoc do estudo COMPASS, desenhado com intuito de avaliação de desfechos de antiagregantes/anticoagulantes, mas com controle placebo para isso de IBPs com 17.598 participantes, o uso de IBPs não foi associado com o aumento da incidência de DRC, IRA, nefrite aguda ou síndrome nefrótica; Porém a taxa declínio da TFGe foi -1,41 e -1,64 ml/min/1,73m² nos grupos placebo e IBP, uma diferença de 0,27 ml/min/1,73m² (p\<0,001). Desta forma, os IBPs parecem se associar com uma redução discreta, mas significativa da TFGe.
Desta forma, o uso de IBP parece conferir um discreto risco de DRC, mas até o momento não existe uma explicação fisiopatológica clara. Quanto ao risco de IRA, apesar da associação com nefrite intersticial aguda, estudos randomizados com pacientes internados não mostram um aumento do risco de IRA relacionado aos IBPs.
Para a maioria dos pacientes o uso dos IBPs é seguro, como toda medicamento, sempre temos que balancear os
riscos e benefícios. Na população com DRC o uso de IBP pode ser um fator a mais a influenciar no declínio da TFG, portanto, é prudente questionar a real necessidade de se manter tais medicamentos, principalmente para os pacientes com TFGe \<60 ml/min/1,73m².
Geralmente um curso de 8 semanas de IBPs pode ser benéfico no manejo dos sintomas e sinais histológicos de
doença do refluxo gastroesofágico, e a maioria dos especialistas recomenda uso crônico de IBP em pacientes com esofagite erosiva, Esôfago de Barrett, úlceras esofágicas ou estenoses pépticas; no entanto, os benefícios do uso de IBP em outros cenários parece ser discreto.
A American Gastroenterology Association afirma: “Embora os IBPs sejam geralmente seguros, os pacientes
não devem usar nenhum medicamento quando não há uma expectativa razoável de benefício com base em evidências científicas ou resposta prévia ao tratamento.”
Desta forma, parece razoável que os nefrologistas questionem a real necessidade de manutenção do uso crônicos de IBPs em pacientes com DRC, como citado, apesar do risco ser discreto, ele existe!