Estudos retrospectivos sugerem que no paciente com (doença renal crônica)DRC em diálise o uso dos beta-bloqueadores não seletivos (carvedilol) se associa com maior taxa de eventos cardiovasculares adversos e mortalidade quando comparado aos beta-bloqueadores seletivos (metoprolol/bisoprolol). E nos pacientes com DRC
avançada não dialítica?
O estudo “Comparative Effectiveness of Bisoprolol, Carvedilol, and Metoprolol Succinate in Patients with Heart Failure and Chronic Kidney Disease” ([link](< https://journals.lww.com/cjasn/citation/9900/comparative_effectiveness_of_bisoprolol,.454.aspx>)) avaliou a eficácia comparativa de três betabloqueadores (bisoprolol, carvedilol e succinato de metoprolol) em pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFER) e DRC avançada. Trata-se de uma análise retrospectiva envolvendo 1.842 pacientes adultos membros da Kaiser Permanente Southern California, que apresentavam DRC avançada não dependente de diálise (taxa de
filtração glomerular ≤45 mL/min/1,73m²) e ICFER, definida por fração de ejeção ≤40%. Observação: 90% dos pacientes possuíam TFGe 30-45 mL/min/1,73m².
O principal desfecho avaliado foi a ocorrência de eventos adversos cardíacos maiores (MACE), como infarto do
miocárdio, acidente vascular cerebral, hospitalizações por insuficiência cardíaca e morte cardiovascular. Desfechos secundários incluíram eventos renais, como redução de 40% da taxa de filtração glomerular, início de diálise
ou transplante renal, e mortalidade por todas as causas.
O que o estudo trouxe de informação nova?
Os resultados revelaram taxa de MACE de 33%, 40% e 37% nos pacientes recebendo bisoprolol, carvedilol e
metoprolol, respectivamente. O bisoprolol esteve associado a uma redução de 24% no risco de MACE em comparação com o carvedilol. Essa diferença significativa sugere que o bisoprolol pode ser uma opção preferível ao carvedilol em pacientes com ICFER e DRC avançada, embora não tenha sido observada diferença significativa entre os dois grupos em relação à mortalidade por todas as causas ou a eventos renais. O uso do succinato de metoprolol foi insuficiente para permitir conclusões robustas, devido ao pequeno número de pacientes que
utilizavam essa medicação.
Além disso, o estudo demonstrou que os pacientes que receberam bisoprolol apresentaram doses mais elevadas da medicação no início do acompanhamento, sugerindo melhor tolerabilidade e potencial para uso de doses mais altas, o que pode ter influenciado os melhores desfechos observados. A seletividade do bisoprolol em comparação ao carvedilol, que é não seletivo, pode explicar as diferenças nos resultados.
Embora o estudo apresente limitações, como o desequilíbrio na distribuição dos betabloqueadores e a ausência de um desenho de "new-user", ele reforça a necessidade de mais pesquisas para entender a eficácia diferencial dos betabloqueadores nessa população vulnerável. Os resultados sugerem que o bisoprolol pode ser uma
escolha mais segura para pacientes com DRC avançada e ICFER, melhorando a sobrevida sem aumentar os riscos renais.
Opinião do Nefroatual
O estudo indica que o bisoprolol pode ser uma escolha preferível ao carvedilol para pacientes com ICFER e DRC
avançada, devido à sua associação com uma redução no risco de eventos cardiovasculares adversos. Embora as diferenças em termos de mortalidade por todas as causas e eventos renais não tenham sido significativas, o bisoprolol mostrou-se mais bem tolerado e com potencial para melhorar desfechos clínicos sem comprometer a função renal.
Dica prática: a troca de carvedilol para bisoprolol ou succinato de metoprolol é especialmente importante nos pacientes com ICFER com tendencia a hipotensão. O contrário é verdadeiro, o uso do carvedilol pode ser uma opção melhor para os pacientes mais hipertensos.