Está muito bem documentado que pacientes com DRC em hemodiálise apresentam um acelerado declínio físico e
cognitivo, tanto devido ao tratamento dialítico quanto às comorbidades associadas.
Nos últimos anos, cada vez mais estudos sugerem o benefício da prática de atividades físicas, seja durante a
sessão de diálise ou nos dias sem diálise, com benefício para qualidade de vida, função cognitiva e função motora. Em uma população de pessoas frágeis, idosas e sedentárias, como é a população em hemodiálise, a prescrição de
atividades físicas e treinamento cognitivo é subestimada.
Este foi um estudo muito interessante publicado no KI Reports ([link aqui](https://www.kireports.org/action/showPdf?pii=S2468-0249%2824%2901652-8)), que avaliou os efeitos do exercício físico e treinamento cognitivo, combinando treinamento em funções executivas, mobilidade, cognição flexibilidade e interações motoras cognitivas em pacientes em HD.
Trata-se de um estudo randomizado e cego (quanto aos desfechos) que avaliou o impacto de medidas de intervenção não farmacológicas na performance física e cognitiva de pacientes em hemodiálise na Eslovênia. Foram selecionados pacientes em HD há mais de 3 meses, com condição médica estável e sem doenças avançadas (neurológicas, cardiovasculares ou pulmonares).
Um total de 44 pacientes foram avaliados, randomização 1:1, 22 no grupo intervenção (EXP) e 22 no grupo
controle (CON). A intervenção consistiu em 12 semanas de exercício físico seguido de treinamento cognitivo durante a sessão de hemodiálise, 03 vezes por semana, totalizando 36 sessões de tratamento.
O exercício aeróbico foi realizado com sessões de ciclismo adaptado nas primeiras 2 horas de HD.
O treinamento cognitivo foi realizado após cada sessão de exercício físico com duração de 30-40 minutos utilizando tablet com variedade de jogos com capacidade de treinamento da capacidade cognitiva (Personalized Brain Training package), com dificuldade adaptada para a realidade individual. O grupo controle recebeu tratamento de HD padrão.
Foi realizada avaliação por meio de:
* TMT score (teste da função cognitiva que aborda velocidade visual, atenção, flexibilidade mental e função executiva)
* TUG test (avaliação da mobilidade funcional): levantar, andar por distância de 3 metros, retornar e sentar.
* TUG Dual, que consiste em realizar o TUG test com desafios cognitivos.
RESULTADOS
Observou-se diferenças significativas entre os grupos quanto ao TMT score, favorecendo o grupo intervenção, com melhora no grupo EXP e piora significativa no grupo controle após as 12 semanas. Houve melhora significativa no "Timed Up and Go Tests" no grupo intervenção, sem diferenças no grupo controle.
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Opinião Nefroatual
Este estudo avaliou o impacto da intervenção por 12 semanas de um treinamento físico e cognitivo durante as sessões de HD, sendo observada uma melhora significativa dos parâmetros avaliados, principalmente velocidade psicomotora e função executiva. No grupo controle, foi observada uma pior evolução, com declínio significativo de habilidades cognitivas.
É interessante notar que essas habilidades estão relacionadas diretamente com aspectos da vida diária, como
dirigir, prevenir quedas, realizar interação social, adesão ao tratamento e compreensão de instruções. Estratégias que visem preservar a autonomia dos pacientes são essenciais para manter a qualidade de vida.
A possível justificativa é que a intervenção realizada pode gerar um maior fluxo sanguíneo cerebral, podendo ter
impacto na neurogênese e fatores neurotróficos, que contribuem diretamente para a cognição e neuroplasticidade.
Na rotina dos plantões em hemodiálise, sabemos que não é fácil implementar essa intervenção durante a sessão de diálise, porém devemos ter um papel ativo em estimular atividade física, reabilitação motora e prática de atividades que gerem estímulo cognitivo.
Essa orientação deve se estender não só para o momento da sessão de HD, mas também para os dias sem diálise. Vemos na prática que pacientes em hemodiálise que iniciam atividade física têm um salto enorme na qualidade de vida.