A nefropatia lúpica é uma das complicações mais graves do lúpus eritematoso sistêmico (LES), frequentemente evoluindo para doença renal crônica terminal (DRCT). O transplante renal tem sido considerado o tratamento de escolha nesses casos, mas seu impacto na sobrevida desses pacientes ainda é motivo de debate. Um estudo recente ([link](https://www.kireports.org/action/showPdf?pii=S2468-0249%2825%2900059-2)), baseado no registro nacional francês REIN, fornece evidências robustas de que o transplante renal melhora significativamente a sobrevida dos pacientes com nefrite lúpica e DRCT.
##### Resultados Principais do Estudo
O estudo avaliou 882 pacientes com DRCT por nefrite lúpica, dos quais 636 (72%) foram incluídos na lista de espera para transplante. Entre esses, 470 (74%) foram transplantados, com um seguimento mediano de 80 meses. Os principais achados incluem:
* O transplante renal reduziu o risco de morte em 60% comparado à permanência em diálise (HR 0.40, IC 95% 0.24-0.67, p < 0.001).
* A sobrevida em 10 anos foi de 83% nos transplantados, comparado a 60% nos não transplantados.
* A taxa de falência do enxerto foi de 23% aos 10 anos.
* A mortalidade foi menor em transplantados, mesmo quando ajustada para fatores como idade, comorbidades e índice de massa corporal.
O estudo também destacou que a maior parte das mortes na população em diálise ocorreu antes do transplante, reforçando a necessidade de encaminhamento precoce para centros de transplante. A análise de subgrupos indicou que os benefícios do transplante foram mais evidentes em homens e em pacientes listados antes do início da diálise.
##### E o que esperar no pós transplante renal?
Um dos desafios no transplante renal para NL é o risco de recorrência da doença no enxerto. Essa recorrência pode ocorrer a qualquer momento, mas a maioria dos episódios se manifesta nos primeiros 10 anos pós-transplante.
Apresentação clínica e patologia: A recorrência geralmente se apresenta com elevação da creatinina sérica, proteinúria nova ou progressiva e hematúria de início recente. A biópsia do enxerto pode revelar lesões histológicas que diferem das observadas no rim nativo e, frequentemente, são menos severas.
Avaliação e diagnóstico: Pacientes transplantados com LN devem ser monitorados para sinais de recorrência, especialmente se apresentarem proteinúria, hematúria e aumento da creatinina sérica. A confirmação diagnóstica requer biópsia do enxerto, com análise por microscopia óptica, imunofluorescência e microscopia eletrônica.
Tratamento: O manejo da recorrência da LN no enxerto depende da gravidade das lesões na biópsia e da progressão clínica:
* Casos leves (Classes I e II de LN): Não requerem mudanças na imunossupressão; a abordagem principal é o uso de inibidores do sistema renina-angiotensina (iECA ou BRA) para reduzir proteinúria e controlar a pressão arterial.
* Casos moderados a graves (Classes III e IV de LN): Exigem aumento da imunossupressão, incluindo elevação da dose de micofenolato mofetil (MMF) ou substituição por ciclofosfamida. O uso de glicocorticoides também deve ser intensificado para melhor controle da atividade lúpica.
##### Implicações Clínicas
Os dados reforçam que o transplante renal deve ser considerado o tratamento de escolha para pacientes com DRCT por nefrite lúpica. O encaminhamento precoce e a priorização na lista de espera podem otimizar a sobrevida desses pacientes. Além disso, estratégias para minimizar riscos pós-transplante, como infecções e complicações cardiovasculares, devem ser adotadas para maximizar os benefícios da terapia.