O conceito de Patient Blood Management (PBM) foi inicialmente desenvolvido para melhorar os desfechos em
pacientes cirúrgicos, e rapidamente se expandiu para outras áreas da medicina. O PBM visa reduzir a necessidade de transfusões de sangue e melhorar a recuperação dos pacientes. Na nefrologia, especialmente em transplantes renais, a implementação de PBM é crucial para reduzir riscos associados às transfusões, como sensibilização ao HLA, complicações infecciosas e sobrecarga de ferro.
Os Três Pilares do PBM
O PBM é estruturado em três pilares:
1\. Detecção e manejo da anemia: A anemia é uma complicação comum em pacientes com Doença Renal Crônica (DRC) e transplantados renais, e pode ser exacerbada no período perioperatório. O uso de eritropoetina e suplementação de ferro intravenoso pode ajudar a otimizar os níveis de hemoglobina antes e após o transplante, minimizando a necessidade de transfusões. Entretanto, há pouca evidência de alta qualidade sobre o uso ideal
de eritropoetina e ferro no pós-operatório precoce do transplante renal, tornando essa uma área importante para futuras pesquisas.
Devemos chamar atenção para se evitar doses excessivas de ferro intravenoso e eritropoetina pelo risco de infecção e trombose, respectivamente.
2\. Minimização da perda sanguínea: Reduzir a perda de sangue durante o transplante é um desafio devido
ao risco de sangramento e trombose associado ao procedimento. Técnicas como a recuperação de células (cell salvage) podem ser úteis em cirurgias onde a perda de sangue é moderada, embora seu uso em transplantes renais ainda precise de mais estudos. Outra estratégia prática envolve a redução do volume de sangue retirado durante exames laboratoriais no período perioperatório, ajudando apreservar o sangue do paciente.
3\. Otimização da tolerância à anemia: Após o transplante, muitos pacientes apresentam anemia e podem precisar
de transfusões. No entanto, a decisão de transfundir deve ser centrada no paciente e balanceada com a estabilidade hemodinâmica e comorbidades. Limitar transfusões a um único concentrado de hemácias por vez, e ajustar os níveis de hemoglobina de forma criteriosa (práticas restritivas), podem reduzir o uso de
sangue e as complicações associadas.
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Lembrar que é comum que nos primeiros dias após o transplante renal a hipervolemia pode contribuir para hemodiluição, manter o paciente bom balanço hídrico otimizado pode reduzir a necessidade de hemotransfusão.
Desafios e Evidências no Manejo da Anemia no Transplante Renal
Embora o manejo da anemia em pacientes com DRC seja bem estabelecido, faltam evidências robustas para
orientar a prática no transplante renal, especialmente no período pós-operatório precoce. As recomendações atuais, baseadas nas diretrizes do KDIGO, sugerem que as decisões sobre transfusões sejam baseadas nos sintomas do paciente, em vez de números absolutos de hemoglobina.
Opinião Nefroatual
Para nefrologistas que lidam com transplantes renais, a aplicação do PBM tem o potencial de reduzir a necessidade de transfusões, melhorar a segurança do paciente e reduzir custos. Técnicas para minimizar a perda de sangue e otimizar a tolerância à anemia devem ser adotadas, ao passo que a pesquisa em torno dos limiares ideais de
hemoglobina para transfusão precisa ser expandida.
Bibliografia: Transfusion-induced HLA sensitization in wait-list patients and kidney transplant recipients ([Link](https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0085-2538\(24\)00573-8))