Esta foi a pergunta que os autores do estudo "Decline in Estimated Glomerular Filtration Rate After Dapagliflozin in Heart Failure With Mildly Reduced or Preserved Ejection Fraction" tentaram responder ([link aqui](https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37952176/)).
Sabemos que após o início do uso de um inibidor de SGLT2 é esperado um declínio inicial na taxa de filtração glomerular estimada (TFGe) em pacientes com diabetes, doença renal crônica e insuficiência cardíaca e que este declínio é um dos motivos da suspensão desta droga por parte dos médicos.
Desta forma, é preocupante que mudanças agudas na TFGe possam levar à interrupção inadequada do medicamento, impedindo assim que os pacientes se beneficiem da redução de riscos em longo prazo.
Portanto, neste artigo foi avaliada a magnitude e a frequência do declínio inicial na TFGe, seus preditores e sua
associação com desfechos clínicos.
Como base de dados, foi utilizado o estudo DELIVER (Dapagliflozin Evaluation to Improve the Lives of Patients With Preserved Ejection Fraction Heart Failure). Este estudo multicêntrico internacional envolveu pacientes com
fração de ejeção (> 40% e TFGe > 25mL/min/1.73m2 e que teve como intervenção o uso de Dapagliflozin 10 mg por dia ou placebo com intuito de avaliar desfechos cardiovasculares.
Foi avaliado desfecho composto renal consistindo na primeira ocorrência de
1. Declínio de 50% ou mais na TFGe em relação ao valor do mês 1
2. Desenvolvimento de DRC estágio 5
3. Morte devido a causas renais
Para avaliar se a queda da TFGe poderia influenciar nos desfechos cardiovasculares e renais foram categorizadas as mudanças entre a linha de base (valor basal de cada paciente) e o mês 1 (30 dias após o início da dapa ou do placebo), pelo (CKDEPI- 2009) e da seguinte forma:
1. \< 0% (sem declínio ou aumento)
2. 0% -10%
3. > 10%
Foram analisados dados de 5788 participantes. A mudança média na TFGe do início ao primeiro mês foi de -1 com placebo e -4 com dapagliflozin. Uma proporção maior de pacientes tratados com dapagliflozin apresentou queda > 10% na TFGe em comparação com o placebo (tabela 2). Cerca de 40% dos pacientes que usaram dapa apresentaram declínio da TFGe > 10% e em 9% houve queda maior do que 25%.
No entanto, esse declínio inicial no TFGe não foi associado com riscos subsequentes de eventos cardiovasculares ou renais em pacientes tratados com dapagliflozina como demonstra a figura abaixo:
Os desfechos renais não foram diferentes entre os grupos de pacientesque apresentaram queda inicial da TFGe quando comparados com os grupos que não apresentaram esta queda.
Os eventos adversos foram mais comuns naqueles que apresentaram queda > 10% no primeiro mês e que estavam utilizando placebo.
Conclusões: entre pacientes com IC tratados com dapagliflozina, um declínio inicial na TFGe foi frequente, mas não associado a um risco subsequente de eventos cardiovasculares ou renais. Esses dados reforçam a orientação clínica de que os SGLT2is não devem ser interrompidos ou descontinuados em resposta a um declínio inicial na TFGe.