O tratamento da nefrite lúpica (NL) tem experimentado mudanças significativas nos últimos anos, refletindo uma
evolução na abordagem desta condição. Uma preocupação importante nas últimas décadas é a alta incidência de efeitos colaterais resultantes do uso prolongado e em altas doses de corticoesteroides (CE) na fase de indução do tratamento.
Quando nos deparamos com um caso de NL em atividade, a prática comum inclui a administração de um "pulso de
metilprednisolona", consistindo em 1 grama de metilprednisolona por via intravenosa, uma vez ao dia durante três dias, seguido por prednisona em uma dosagem de 1 mg/kg/dia, com um desmame progressivo.
No entanto, é crucial adotar uma abordagem mais individualizada do tratamento, levando em consideração a gravidade da doença.
A tabela abaixo é do KDIGO 2024 ([link](https://kdigo.org/wp-content/uploads/2024/01/KDIGO-2024-Lupus-Nephritis-Guideline.pdf)) e fornece um resumo dos esquemas terapêuticos que podem ser adotados (doses altas, moderadas ou baixas), e é essencial tê-la à disposição em nosso consultório para orientar o desmame da prednisona e minimizar complicações.
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Surge a questão: é seguro utilizar doses menores de CE na fase de indução de uma doença tão séria?
Os CE são fundamentais no tratamento de indução da NL proliferativa (classes III e/ou IV) devido ao seu
efeito anti-inflamatório imediato, o qual é distinto dos efeitos mais tardios de outros medicamentos como ciclofosfamida, micofenolato mofetil, rituximabe e inibidores da calcineurina.
A dosagem inicial de metilprednisolona pode variar entre 250 a 1000 mg/dia por três dias consecutivos, sendo comum a prescrição de 500 mg/dia. Essa administração intravenosa é especialmente indicada em casos mais graves, como na glomerulonefrite rapidamente progressiva, principalmente se apresentar rápida deterioração da função renal, alta proporção crescentes e lesões vasculares, ou se ocorrer envolvimento do sistema nervoso central e pulmonar.
Após os três dias de pulsoterapia, a manutenção com uma dose diária de prednisona é necessária, mas
raramente é preciso exceder 60 mg/dia.
A preocupação com as altas doses de CE se deve às significativas taxas de complicações associadas, tanto a curto
quanto a longo prazo, incluindo infecções, desordens linfoproliferativas, câncer de pele, diabetes mellitus, osteoporose e obesidade.
É importante destacar que regimes de menor dose e desmame mais acelerado já foram avaliados em estudos clínicos, demonstrando eficácia comparável. O papel dos outros imunossupressores, como ciclofosfamida ou micofenolato mofetil, não é intensificar o efeito imunossupressor – função já desempenhada pelos CE –, mas sim facilitar um controle eficaz da doença enquanto se minimizam os efeitos colaterais associados às altas doses de CE.
Como prescrever um pulso de metilprednisona?
* Se dose de 250 mg, diluir em 100 mL de SF 0,9% ou SG5%, infundir em 02 horas
* Se dose de 500 mg, diluir em 250 mL de SF 0,9% ou SG5%, infundir em 03 horas
* Se dose de 1000 mg, diluir em 500 mL de SF 0,9% ou SG5%, infundir em 04 horas
Nos dias da infusão devemos ter vigilâncianos níveis alteração do humor e consciência, pressóricos e hiperglicemias. Nos dias seguintes a pulsoterapia, atenção ao risco de infecção.