A morte súbita é um evento comum nos pacientes em programa de hemodiálise, o risco é de até 20 vezes maior quando comparado a população sem diálise. Diversos são os fatores envolvidos como alterações cardíacas estruturais, distúrbios eletrolíticos, e polifarmácia, achados comuns nos pacientes em hemodiálise.
Medicamentos que causam prolongamento o intervalo QT podem ser potencialmente perigosos, drogas com
esse efeito colateral como escitalopram, citalopram, azitromicina e quinolonas se associam com morte súbita na população em hemodiálise.
A ondansetrona (nome comercial Nausedron) é um antiemético comumente prescrito e como efeito colateral pode
promover prolongamento do intervalo QT e causar Torsades de Pointes. Inclusive o FDA informa esse risco em potencial em pacientes com cardiomiopatias que recebem ondansetrona intravenosa. O uso de ondansetrona na população em hemodiálise é muito frequente, porém atualmente não existe recomendação sobres riscos específicos para população dialítica.
Esse estudo publicado no JASN e intitulado ”Ondansetron and the Risk of Sudden Cardiac Death among Individuals Receiving Maintenance Hemodialysis” nos apresenta informações importantes ([link aqui](https://journals.lww.com/jasn/abstract/9900/ondansetron_and_the_risk_of_sudden_cardiac_death.264.aspx)).
Foi um estudo retrospectivo realizado com o banco de dados norte americano (US Renal Data System) que realizou uma comparação ativa entre pacientes que iniciaram uso de antieméticos, ondansetrona vs. outros (metoclopramida, prometazina ou clorpromazina), e o risco de morte súbita em até 10 dias de uso no centro de hemodiálise. Morte súbita foi definida como secundária a arritmia cardíaca ou parada cardíaca primária.
De um total de 119.254 pacientes avaliados, 64.978 (55%) receberam ondansetrona e 54.276 (45%) receberam outro antiemético. Os pacientes do grupo ondansetrona eram mais velhos, possuíam mais diabetes e eram mais prováveis de ter ECG nos 30 dias antes do uso do medicamento.
Nos 10 dias seguindo ao uso do medicamento ocorreram 133 mortes súbitas no grupo ondansetrona e 65 no grupo
controle, foi observado uma frequência de eventos de 2,1 vs. 1,2 eventos para 10.000 pacientes-dia no grupo ondansentrona e controle, respectivamente. Um risco relativo de 1,44 (IC 95% 1,08-1,83).
Opinião Nefroatual:
Estudos de farmacoepidemiologia são importantes para avaliar segurança de medicamentos, nos pacientes em
hemodiálise com tantos fatores de risco competitivos, temos de ficar atentos para evitar fármacos potencialmente danosos, especialmente em uma população com tanta polifarmácia.
Quando comparado a outros antieméticos (metoclopramida, prometazina ou clorpromazina) foi identificado um
maior risco de morte com súbita em pacientes em uso da ondansetrona.
Pacientes em hemodiálise frequentemente se queixam de náuseas e vômitos, o uso de antieméticos é uma
prática frequente. É essencial considerar o risco de morte súbita em qualquer medicamento que seja de de uso frequente na hemodiálise.
Tendo em vista a plausibilidade biológica e dados deste estudo, vale a pena considerar uso de outros antieméticos em detrimento da ondansetrona, ou utilizar uma menor dose, principalmente se intravenosa, na hemodiálise.
A atenção deve ser redobrada nos pacientes com hipocalcemia ou com intervalo QT longo.