A anemia é uma complicação relacionada à doença renal crônica (DRC) associada a aumento de
mortalidade e redução da qualidade de vida.
O benefício nefroprotetor do uso de iSGLT2 nos pacientes com DRC já está bemestabelecido. No entanto, recentemente análises post hoc do CREDENCE e do DAPA-CKD sugeriram também benefício dos iSGLT2 em melhora da anemia. Apesar dos mecanismos para esse efeito ainda estarem sob investigação, parece que essas
medicações aumentam a produção de eritropoetina (EPO) por interferir no sistema do fator indutor da hipóxia.
Uma coorte publicada no JAMA neste mês de março ([link](https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC10912959/)) avaliou a incidência de anemia em pacientes diabéticos tipo 2 e DRC estágio 1 a 3, ao comparar pacientes com início recente do uso de iSGLT2 com aqueles em uso de agonista deGLP1 - que é uma classe de hipoglicemiante que não parece ter efeito sobre a hemoglobina, mas que tem evidenciado efeitos cardiorrenais e metabólicos benéficos assim como os iSGLT2.
Neste estudo foi verificado que o uso de iSGLT2 foi associado a um risco 19% menor de desfecho composto de anemia comparado ao uso de agonista de GLP1, sendo estimado um número necessário para tratar (NNT) de 55. Esse resultado foi consistente para todos os iSGLT2, sugerindo um efeito de classe. Uma vez que durante o período de follow-up não houve diferença de controle glicêmico e em perda de taxa de filtração glomerular (TFG) entre os grupos comparados, o mecanismo através do qual os iSGLT2 reduzem a incidência de anemia parece ser,
também, independente desses fatores.
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No presente estudo a redução da incidência de anemia foi de aproximadamente 20%, enquanto que nas análises post hoc do CREDENCE e DAPA-CKD, havia sido reportado uma redução de cerca de 50 a 60%. Além disso, como demonstrado na imagem acima, quando avaliado o início de tratamento para anemia, nesta coorte não houve diferença entre os grupos - o que vem em contraste com o que havia sido descrito nas análises post hoc desses ensaios clínicos.
Esses achados podem decorrer da diferença dos critérios de elegibilidade dos estudos, visto que na coorte do JAMA os pacientes tinham melhores TFGs e menores albuminúrias, sugerindo que talvez haja benefícios maiores em pacientes com TFG menores.
OPINIÃO NEFROATUAL
Apesar de ser um estudo de coorte, ele reitera uma informação consistente com outros trials publicados quanto ao benefício dos iSGLT2 também em melhora da anemia. O diferencial deste estudo foi trazer a comparação com os agonistas de GLP1, mostrando que esse benefício parece ser independente do controle de HbA1c e da preservação da TFG, assim como sugerir que é um efeito de classe, uma vez que, diferentemente do CREDENCE e do DAPA-CKD avaliou diferentes tipos de iSGLT2.