Os anticorpos antinucleares (FAN) desempenham um papel fundamental no diagnóstico de doenças autoimunes. Para nós, médicos nefrologistas, entender os aspectos específicos desses anticorpos é essencial para termos diagnósticos mais precisos e eficazes em pacientes com sintomas que podem estar relacionados a doenças autoimunes sistêmicas com acometimento renal! Reconhecer os padrões do FAN podem ajudar a corroborar (ou até mesmo a descartar, isso mesmo, descartar doenças autoimunes).
Qual a Utilidade Clínica e Limitações dos Testes de FAN
O dosagem do FAN é crucial para identificar doenças como o lúpus eritematoso sistêmico (LES). Essa dosagem é altamente sensível, o que significa que podem detectar a presença de doenças autoimunes mesmo em estágios
iniciais. No entanto, devido à sua baixa especificidade, muitos resultados positivos podem não indicar uma doença autoimune, especialmente em mulheres mais velhas e indivíduos saudáveis.
OK, entendi. Mas quando eu devo solicitar o teste do FAN?
O teste de FAN deve ser considerado quando há sintomas sugestivos de doenças autoimunes, como:
* Fotossensibilidade ou pleurite, indicativos de LES
* Fenômeno de Raynaud ou alterações cutâneas, sugerindo esclerose sistêmica
* Sintomas de olhos e boca secos inexplicáveis, apontando para a Síndrome de Sjögren
* Sinais de dermatomiosite ou polimiosite
* Suspeita de hepatite autoimune ou colangite biliar primária.
* Na presença de alterações glomerulares de possível causa sistêmica como síndrome nefrótica, nefrítica ou proteinúria/hematúria assintomáticas. Nesses casos é fundamental saber interpretar os resultados
Interpretação dos Resultados
É importante que o resultado do teste seja interpretado dentro do contexto clínico do paciente. Um título de 1:160 ou mais é geralmente considerado positivo, mas a correlação com sintomas clínicos e outros achados laboratoriais é fundamental para evitar diagnósticos errôneos.
Para o diagnóstico de LES o FAN deve estar em títulos >= 1:80 utilizando imunofluorescência (HEp-2). É o critério de entrada, ou seja, pré-requisito para o diagnóstico. No entanto, este teste não é apenas quantativo! Ele deve ser avaliado também de acordo com o seu padrão, que pode ou não corroborar a hipótese clínca!.
Padrões de Coloração e Suas Associações Clínicas
Os padrões de coloração observados no teste de FAN oferecem pistas importantes sobre o tipo de autoanticorpo presente e a doença potencial associada:
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ATENÇÃO! Nem sempre o FAN positivo quer dizer que há associação com LES! O Padrão denso e pontilhado fino é comum em pessoas saudáveis e é incomum em pessoas com LES. Quando estamos diante deste padrão
devemos pensar em diagnósticos alternativos!
Tá, mas qual é a relevância clínica e quais os testes adicionais que precisamos?
Resultados positivos muitas vezes levam a testes adicionais para identificar autoanticorpos específicos, usando ensaios de fase sólida. O Consenso Internacional sobre Padrões de Anticorpos Antinucleares (ICAP) ajuda a
padronizar e melhorar a interpretação clínica dos padrões de FAN. Cheque aqui este link com todos os padrões e suas associações ([padrões de FAN completos](https://anapatterns.org/nuclear_patterns.php)). Após estes resultados do FAN podemos solicitar anticorpos
específicos para a hipótese clínica e aumentar as chances de termos positividade! Não é para pedir todos os autoanticorpos para todos os pacientes...
Resumo do Nefroatual
A interpretação correta dos FAN é vital para o diagnóstico e manejo adequado de doenças autoimunes em nefrologia. Compreender os padrões de coloração e suas associações clínicas permite aos nefrologistas avançarem na investigação diagnóstica com maior precisão, evitando assim tratamentos desnecessários ou inadequados para seus pacientes. Este resumo fornece uma visão abrangente sobre a aplicação e interpretação dos FAN, garantindo que os nefrologistas possam aplicar esses conhecimentos na prática clínica diária para melhorar os cuidados com os pacientes.