Os cálculos renais podem obstruir o fluxo urinário e provocar complicações tais como pielonefrite ou insuficiência
renal aguda (IRA). Indivíduos com transplante renal e nefrolitíase apresentam um risco elevado de infecção e obstrução, especialmente devido à denervação do enxerto e ao regime de imunossupressão.
Estudos provenientes dos Estados Unidos indicam que até 2% dos pacientes transplantados renais desenvolvem
nefrolitíase nos primeiros três anos pós-transplante. Os principais fatores de risco incluem histórico prévio de nefrolitíase e longa duração de tratamento dialítico.
O artigo "Clinical Outcomes after a Kidney Stone Event in Kidney Transplant Recipients", publicado no
Clinical Journal of the American Society of Nephrology (CJASN) em 2024, ressalta a relevância do monitoramento ativo da nefrolitíase em pacientes transplantados renais ([link aqui](https://journals.lww.com/cjasn/citation/9900/clinical_outcomes_after_a_kidney_stone_event_in.364.aspx)).
Este estudo retrospectivo avaliou 1.436 pacientes transplantados com histórico de nefrolitíase nos três anos
subsequentes ao transplante, focando nas incidências de pielonefrite, IRA e hospitalizações nos 90 dias seguintes a um episódio de litíase.
Resultados:
A média de idade era de 55 anos, sendo 59% do gênero masculino. A mediana de tempo entre o transplante e o
primeiro episódio de cálculo renal foi de 7,3 meses, com 65% dos diagnósticos ocorrendo durante a internação.
No seguimento de 90 dias pós-diagnóstico, 13% dos pacientes tiveram infecção do trato urinário (67% dos
casos sendo pielonefrite) e 27% desenvolveram IRA, necessitando de hospitalização. A idade avançada do receptor foi associada a um risco aumentado de hospitalização e IRA pós-evento litíase (HR 1.17; IC 95% 1,08-1,25 por
década). Pacientes diabéticos apresentaram um risco maior de pielonefrite (HR 1.17; IC 95% 1,01-1,34).
Após 90 dias do episódio de litíase, a taxa de hospitalização foi significativa, atingindo 35%. A incidência de hospitalização por IRA foi de 27%, mais que o dobro em comparação aos transplantados sem nefrolitíase.
##### Opinião Nefroatual
Este estudo ilustra impacto clínico da nefrolitíase em pacientes transplantados. Assim, é imperativo
realizar uma vigilância proativa em indivíduos de alto risco, especialmente aqueles com antecedentes de litíase renal ou longa duração em diálise. Nestes pacientes podemos fazer um acompanhamento mais rigoroso e receber intervenções preventivas no primeiro ano pós-transplante para minimizar o risco de complicações como pielonefrite e IRA que requerem internação.