Foi publicado NEJM ([link aqui](https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1510603)) um excelente artigo de revisão o sobre desordens relacionadas ao magnésio. Vamos fazer um resumo dos pontos mais importantes relacionados a essa molécula?
O magnésio é um íon presente em todas as células do nosso organismo e é essencial para diversas funções celulares, como detalhado na imagem abaixo:
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Diante da função regulatória desse íon, o controle dos níveis intracelulares do magnésio deve ser rigoroso. Para isso, existem diversos canais transportadores de magnésio e os dois principais são: o TRPM7 (presente em todas as células do corpo; é essencial para a viabilidade celular), e o TRPM6 (expresso principalmente no cólon e no túbulo contorcido distal; responsável pela reabsorção intestinal e renal do magnésio). Além do transporte transcelular, há também o transporte paracelular através de poros formados pela claudina 16 e 19.
O magnésio é um íon predominantemente intracelular e é armazenado principalmente nos ossos na forma de hidroxiapatita. No plasma, 30% do magnésio está ligado a proteínas principalmente através dos ácidos graxos livres, por isso, geralmente, o nível sérico de magnésio é inversamente proporcional ao risco cardiovascular e de doenças metabólicas.
A hipomagnesemia é definida por um magnésio sérico menor que 1.7 mg/dl. Se há hipomagnesemia leve, geralmente é assintomática. Nos casos mais graves (\< 1.2 mg/dl), o paciente pode ter sintomas como:
* Anormalidades neuromusculares (espasmos, crises convulsivas, tremores, cãibras, fraqueza muscular)
* Anormalidades cardiovasculares (como arritmias e disfunção endotelial)
* Desordens metabólicas (resistência à insulina e condrocalcinose)
* Hipocalemia (hipomagnesemia ocasiona aumento da secreção de potássio no ducto coletor)
* Hipocalcemia (hipomagnesemia suprime secreção e reduz a sensibilidade renal ao paratormônio)
A hipomagnesemia está associada com um risco aumentado de hospitalização e morte, especialmente se hipocalemia concomitante.
A prevalência desse distúrbio é de 3 a 10% na população em geral, no entanto, em diabéticos tipo 2 essa prevalência pode subir para 10 a 30%.
A hipomagnesemia pode decorrer de:
1. Ingestão inadequada
2. Aumento de perdas gastrointestinais
3. Redução de reabsorção renal
4. Redistribuição do magnésio do extra para o intracelular
Entre as as causas para tais distúrbios destaca-se o uso de drogas, com exemplificado na imagem abaixo:
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Cerca de 20% dos pacientes que utilizam inibidores de bomba de prótons possuem deficiência de magnésio, efeito que é dose-dependente.
Entre as causas não medicamentosas, são citadas:
* Etilismo crônico (por desnutrição, aumento de perdas gastrointestinais e magnesúria por
lesão tubular pelo álcool)
* Diabetes tipo 2 (a insulina ativa o TRPM6, por isso, a resistência à insulina reduz reabsorção tubular de magnésio)
* Autoanticorpos anti-claudina 16
* Hipomagnesemia hereditária
Pode haver componente genético em aproximadamente 80% dos pacientes com hipomagnesemia e a maior parte das alterações genéticas afetam a reabsorção de magnésio no túbulo contorcido distal. Entre as mutações genéticas envolvidas estão:
* Gene TRPM6 - Hipomagnesemia e hipocalcemia secundária
* Gene EGF ou EGFR
* Gene CNNM2
* Gene NCC - Síndrome de Gitelman
* Gene MT-TI ou MT-TF
* Gene CLDN16 ou CLDN 19 - Hipomagnesemia, hipercalciúria e nefrocalcinose familiar
Ao identificar uma hipomagnesemia deve-se avaliar se a perda é renal ou gastrointestinal através da dosagem de magnésio na urina de 24h, da fração de excreção do magnésio e do teste de reposição de magnésio.
Nos casos de hipomagnesemia leve, está indicada a reposição oral e podem ser utilizados sais orgânicos de magnésio (citrato, aspartato, glicinato, gluconato ou lactato de magnésio) que são melhor absorvidos que os inorgânicos (cloreto, carbonato ou óxido de magnésio).
O efeito colateral mais comum dessa reposição é a diarréia. Nos casos resistentes, pode-se utilizar medicações que inibem os canais de sódio no ducto coletor, como a amilorida ou o triantereno, além de que, especialmente nos pacientes com diabetes tipo 2, outra alternativa pode ser o uso de inibidores dos cotransportadores de sódio-glicose (iSGLT2).
Nos casos de pacientes com sintomas graves (tetania, crises convulsivas, arritmias), hipocalemia associada e refratários, como no casos de síndrome do intestino curto, é necessária a reposição endovenosa.