As doenças cardiovasculares aterosclerótica representam uma das principais causas de mortalidade em pacientes com doença renal crônica terminal. Ensaios clínicos randomizados (4D, SHARP e AURORA) não evidenciaram benefício do uso de estatinas nos pacientes que evoluem com falência renal, o que levou à visão simplista de que as estatinas não seriam eficazes para a prevenção primária em pacientes em diálise.
O estudo “Long-Term Benefits and Safety of Statins in Patients with Kidney Failure: A Target Trial Emulation Study” ([link](https://login.journals.lww.com/?wa=wsignin1.0\&wtrealm=urn%3ajournals\&wctx=https%3a%2f%2fjournals.lww.com%2fjasn%2f_layouts%2f15%2fAuthenticate.aspx%3fSource%3dhttps%253a%252f%252fjournals.lww.com%252fjasn%252fpages%252farticleviewer.aspx%253fyear%253d9900%2526issue%253d00000%2526article%253d00470%2526type%253dFulltext\&token=method|ExpireAbsolute;source|Journals;ttl|1731467360864;payload|mY8D3u1TCCsNvP5E421JYLODNjWzqBd84iNxH95v9FsDckgLf0Cx88+64uszFXj66LBOlQprHb+eAGZbrBm1XYQYzIDFYwL84ZwPKgqlhUDkG5FBZFmc3ET+vatXAh8pUWlLhHnmdyBc8Niplw0A6wxpNODCLWEUx0caNxL8vFvaBh26spazsctzN2Vkx4e5ZEiYvVXSIhMYIyeYLu31z8KBR5KTcdOk1pWhtqwq4u/7QYws6F/JordLFLjIQW303evZuRzy+lpqdrIQexgfysI5931XDVP6DVVSfUSesMzCKIPRRAjTtyXXnIZKkWxR3YE/cE32SDzT6xFGWStWdFSigwZl8NVw7vTSx9OmgVAnnb+7t6kVBdyYEyKbisWzDrZnTk+D9EjJKQUBZG2KXT9//3HxIXLCXevev/BPHB+7Vf1ebBcKe1Z7BCXIJSeB4lgksEQArTsDZ0R7Le1p606tEVblPInGzznLQBp26waUMxYsWPsul4p7CD1vtVZHxXx5HiMdsX7QCUqdowZSuxTclNuLkrIC32LLxjNdLkf3rfBjGXLhU9USO7Z0Tz0rlFBZAkcEJUTlffWrZ6P5JfwIkrIHOEH6jPTYhRe3tlD+6zo5AdnkMXrksplpvsMJEMurRqEk3PgLG5CXJnh5HbFXP205MTsCF+DlCFPGD47dGsojavjhL8mhjKdjPNYOtv9ebJPY2rk11wshbs8N8GAZcVKJ3Myvn7XREZqfuircp/6sl7G3erQJcdXnOVkwakJKlD0FaKZKR6M8m7hluL8H1HgGyaBzo+d/kmAQM/9b42oKIUQrJdiR23N4auQ/D49N/td6NtfdZxwHTy7DNCvtJ4i3+fVgWYGwuA3Rrg4IWP3UOJiaWljH8TxFiCjeoydWgSIBwAtS58i2EBW/jyTGnL8MJSUXOYqmkOst4g8SU8lDdejQP9KFDAA6lt/imOxrLjgEnJBnRK2JDWN5SMEszmkdLt/AzXlX/0rnyFlCBp+L2CG0B4x+GMoj+2B/o5TFk3ddsc5yv/sCH2y59bLtqSnf/n1g5vAcyogqS+fnXui0T8d2j8OTd+mRqAVKb6zx7UWojHcExSfrX8+qn4X96/IFVDZN5IPjY8kvFkrEum7UN2Vy2a3ZJben9UAtD+ewnbebKAhUaKjqTAq1CzB3RiZlOASnP/yFCwioRSIgOTU3/SROQfr8p8sOQOe1PMun653l9DLS70QjXWU4Uonx/8FFAgUokjBy55btdjRH370JuSUeOVTK8Q3o5rT/HPcd1nrpwelodPApgQlChx2HWHJoomeMqRjrpk3TKHXPN24RoUrfyON4woXq1gLvUHyGPE5rQx0qRMUsVHwA2AyF1SPr9PrJ2H2AfBDUMI0=;hash|0Ev1/JSXk+V9FPhX3NVQXg==)) explorou o papel das estatinas nesse contexto, destacando sua eficácia na redução de riscos cardiovasculares e de mortalidade geral nessa população vulnerável.
Esse foi um estudo realizado em Hong Kong, foi realizado análise dados de 3.019 pacientes com DRC estágio 5 e níveis elevados de LDL (≥ 100 mg/dL) que iniciaram uso de estatina (sinvastatina, atorvastatina, lovastatina, rosuvastatina, lovastatina, pitavastatina e/ou pravastatina). Ocorreu um acompanhamento por até 11 anos (média de 4,5 anos). Utilizando o método de emulação de ensaios clínicos-alvo, os pesquisadores compararam pacientes que iniciaram e não iniciaram o uso de estatinas.
Foi avaliado a incidência geral de doenças cardiovasculares, subtipos específicos de doenças cardiovasculares (infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca, AVC), mortalidade por todas as causas e eventos adversos graves (miopatias e disfunção hepática).
Os resultados mostraram uma incidência doenças cardiovasculares (por 1.000 pessoas-ano) para os iniciadores e não iniciadores de estatinas foi de 38,8 (IC 95%: \[31,2, 48,3]) vs. 42,5 (IC 95%: \[41,3, 43,7]).
O uso de estatinas se associou a uma redução significativa no risco de doenças cardiovasculares e mortalidade, sem um aumento nos riscos de eventos adversos graves, como miopatias ou disfunção hepática. No grupo de análise per-protocolo, houve uma redução de 34% no risco de doenças cardiovasculares e 40% na mortalidade geral entre os usuários contínuos de estatinas.
Além disso, a análise a longo prazo revelou uma diferença de risco absoluto de 7% em 5 anos e 11% em 10 anos para doenças cardiovasculares, com um NNT de 14 e 9, respectivamente. Estes achados reforçam o papel potencial das estatinas na proteção de pacientes renais contra eventos cardiovasculares e morte, sendo uma ferramenta viável e segura mesmo diante das variações nos perfis clínicos desses pacientes.
Opinião do Nefroatual:
Neste estudo o uso de estatinas em pacientes que evoluíram para falência renal reduziu o risco de eventos cardiovasculares e mortalidade geral, sem aumentar o risco de efeitos adversos graves. Desta forma, as estatinas são uma opção eficaz e segura para a prática clínica, beneficiando a saúde cardiovascular desses pacientes.
Entretanto, é importante considerar as limitações de um estudo retrospectivo. Além disso, trials randomizados anteriormente não mostraram tal benefício. Talvez a seleção de pacientes com maior risco pode ser a chave para identificar aqueles que mais se beneficiariam para prevenção primária de eventos cardiovasculares com estatinas.
Fala nos comentários, como você individualiza a prescrição de estatina para pacientes em diálise?