O xenotransplante utiliza células ou órgãos geneticamente modificados de espécies não humanas para humanos.
Recentemente foi realizado o primeiro xenotransplante de um rim de porco para um paciente com DRC avançada no Massachusetts General Hospital. Vamos resumir aqui os pontos mais importantes da entrevista do Dr Leonardo Riella ([vídeo disponível aqui](https://www.youtube.com/watch?app=desktop\&fbclid=PAAaYPC74zCnH0tK1T1xA_p5vFh1w6I10h1pOF8DvPAJob9_frF_-p90-Kzc8\&v=9deVxfepKcs\&feature=youtu.be)).
Primeiro é importante entender porque foi escolhido um porco para fazer o xenotransplante.
Vantagens da utilização de porcos
* Tamanho e função semelhantes
* Gestação curta
* Já utilizados na medicina para cartilagens evalvas cardíacas
Desafios
* Incompatibilidade imunológica (anticorpos contra carboidratos dos porcos)
* Diferenças de fisiopatologia (coagulação e cascata complemento)
* Risco de infecções
* Edição utilizando engenharia CRISP
Dessa forma, foi escolhido o porco Yucatan devido tamanho do rim ser similar ao do rim humano. Utilizando
engenharia genética (CRISPR) foram realizadas as seguintes modificações:
Retirada de genes do porco
* Carboidratos dos porcos (aGal, Sd(a) e Neu5Gc)
* Inativação de retrovírus endógenos
Adição de genes humanos
* Inibidores do complemento (hCD46, hCD55)
* Anticoagulantes (hTHBD, hPROCR)
* Reguladores resposta imune (hCD47, hMOX1, hTNFAIP3)
Os rins geneticamente modificados possuem funções semelhantes como clareamento de escórias, manutenção do
equilíbrio eletrolítico, hídrico e mineral ósseo. Existe necessidade de reposição de eritropoetina para tratar anemia.
Experimentos em primatas não humanos mostram sobrevida >2 anos.
Como foi realizado a imunossupressão para prevenção de rejeição
Semelhante a imunossupressão do transplante renal habitual em humanos, com algumas especificidades:
Indução
* Rituximabe (depletor de células B)
* Timoglobulina (depletor de célula T)
* Ravalizumabe (inibidor do complemento)
* Corticoesteróide
Manutenção
* AntiCD154 (Tegoprubart)
* Micofenolato de sódio
* Tacrolimo
* Prednisona (baixa dose)
Uma preocupação importante é com o risco de infecção, para isso serão seguidos os protocolos de segurança
para manejo do risco de infecção: principal preocupação é o risco de infecções do porco para humanos, porém esse risco parece ser muito baixo. Para isso uma série de cuidados são realizados:
Critérios rigorosos de criação:
* Manter animal isolado/alimentação
* Testes rigorosos para confirmar ausência de vírus antes da realização do transplante, realizado detecção de
retrovírus endógeno suíno (PERV), CMV suíno, Circovírus suíno, Influenza suíno e Hepatite E.
Protocolos para entender e reduzir risco de eventuais infecções:
Precaução com uso de EPIs em caso de contato com secreções/sangue.
Equipe de cuida do doente realiza coleta e armazenamento de sangue periodicamente para análise posterior, seguindo as recomendações do FDA.
O receptor do xenotransplante será monitorado regularmente paga infecções comuns aos suínos. Se infecções
detectadas, a equipe que cuida do paciente também será testada.
Nos últimos 20 anos de pesquisa pré-clínica com xenotransplante, nenhuma infecção foi detectada nos pesquisadores e veterinários envolvidos. Esse certamente foi um grande passo para a nefrologia, vamos esperar o seguimento e evolução do paciente que recebeu o xenotransplante para entender um pouco mais sobre esse procedimento revolucionário.