Garantir a segurança durante as sessões de hemodiálise é essencial para prevenir complicações graves. Entre os raros mas perigosos eventos associados ao procedimento está a embolia gasosa venosa (EGV), que pode resultar em isquemia tecidual, lesões endoteliais e complicações cardiovasculares ou neurológicas graves. Este artigo ([link](https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC5293333/)) explora explora entre complicações os principais fatores de risco, apresentações clínicas e medidas preventivas para EGV, com base nas melhores evidências disponíveis.
O que é a Embolia Gasosa Venosa?
A embolia gasosa venosa ocorre quando bolhas de ar entram no sistema circulatório e chegam à microcirculação pulmonar ou cerebral, provocando manifestações clínicas graves. Essas bolhas podem causar desde sintomas leves, como dispneia e tontura, até eventos fatais, incluindo insuficiência cardiorrespiratória e morte.
Apesar dos avanços tecnológicos, que incluem sistemas modernos de detecção de ar e dispositivos de segurança em máquinas de hemodiálise, a EGV permanece uma complicação potencial, especialmente em situações envolvendo erro humano.
Fatores de Risco
Os principais fatores associados à embolia gasosa incluem:
1. Priming inadequado do circuito extracorpóreo: Resíduos de ar na tubulação ou no dialisador.
2. Conexões frouxas: Fugas em conexões na linha arterial.
3. Taxas de fluxo altas: A pressão negativa arterial pode facilitar a entrada de ar.
4. Desconexão acidental: Durante manobras no cateter venoso central (CVC), seja na inserção, manutenção ou remoção.
![](/sistema.webp)Figura 1. | O embolismo aéreo venoso pode surgir de quatro possíveis áreas de entrada de ar no circuito de diálise. (1) Uma conexão quebrada ou frouxa entre a agulha arterial e o tubo pode resultar em entrada de ar, pois esse segmento possui pressão intraluminal negativa. (2) Um orifício no tubo arterial pode aspirar ar para a linha arterial. (3) A entrada de ar pode ocorrer durante a administração de anticoagulantes ou solução salina. (4) Um preparo inadequado do circuito pode resultar em entrada de ar pelo dialisador ou tubos de diálise. Uma rachadura na linha venosa não causará entrada de ar devido à pressão intraluminal positiva. O ar que entra no circuito chega ao cata-bolha venoso, formando espuma ou bolhas no topo do nível de sangue. Assim que o nível de sangue na câmara da armadilha de ar venosa cai abaixo do nível do detector de ar, ele dispara imediatamente um alarme e interrompe o fluxo de sangue. Consequentemente, o embolismo aéreo venoso ocorre devido a erro humano.
Apresentação Clínica
Pacientes com embolia gasosa podem apresentar:
* Pulmonar: Dessaturação, dor torácica, dispneia, cianose e taquicardia devido à sobrecarga do ventrículo direito.
* Cerebral: Alteração do estado mental, alterações visuais, convulsões e sinais de AVC isquêmico.
* Hemodinâmica: taquicardia e hipotensão
Diagnóstico e Manejo
O diagnóstico requer alta suspeição clínica e pode ser confirmado por exames de imagem como Doppler precordial (detecta volumes pequenos de ar) e Ecocardiograma transesofágico ( Identifica volumes menores que 0,02 mL/kg de ar)
No manejo da EGV, é crucial:
1. Oxigênio a 100%: Reduz o volume das bolhas e melhora a oxigenação tecidual.
2. Posicionamento supino: Facilita a hemodinâmica. Embora o posicionamento lateral esquerdo tenha sido tradicionalmente recomendado para prevenir obstrução do trato de saída do ventrículo direito, estudos em cães não mostraram vantagem hemodinâmica em comparação à posição supina. Recentemente, a posição supina tem sido preferida, pois facilita a administração de oxigênio e suporte hemodinâmico. O decúbito lateral esquerdo pode ser útil se houver tentativa de aspiração de ar por CVC.
3. Aspiração de ar: Pelo cateter venoso central, quando aplicável.
Prevenção
Medidas preventivas simples mas eficazes incluem:
* Realizar priming adequado do dialisador e da tubulação antes de iniciar a hemodiálise.
* Garantir que todas as conexões estejam firmemente fixadas (atenção especial ao uso do TEGO)
* Evitar taxas de fluxo sanguíneo muito altas.
* Adotar protocolos rigorosos para manuseio de CVC, incluindo oclusão do acesso durante manipulações.
* Manter alto o nível de sangue no catabolha venoso.
Embora rara, a embolia gasosa venosa é uma complicação potencialmente fatal que exige prevenção ativa e monitoramento rigoroso. Sua compreensão e manejo adequado são essenciais para minimizar riscos e melhorar a segurança do paciente durante a hemodiálise.