Aproximadamente 1 em cada 1.000 a 4.000 pessoas possui a doença renal policística autossômica dominante (DRPAD). Diante de um paciente com DRPAD, 85% apresentam uma história familiar positiva; para os outros 15%, podemos estar diante de um quadro \*de novo\* ou de uma história familiar imprecisa.
Apesar de ser uma doença genética, na prática vemos uma grande variabilidade de apresentação clínica.
Por exemplo, o pai de um paciente possui a doença e evoluiu para diálise aos 70 anos, enquanto seu filho, com 40 anos, já está em uma fase pré-dialítica, com diversas complicações como infecção cística, sangramento cístico e hipertensão.
Este excelente artigo de revisão, publicado no KI Reports ([disponível aqui](https://www.kireports.org/article/S2468-0249\(24\)00065-2/fulltext)), abordou o tema. Vamos falar sobre os principais pontos.
Estudos em gêmeos monozigóticos já mostraram diferenças de até 7 anos na evolução para falência renal. Em uma
mesma família, uma diferença de mais de 15 anos na evolução para falência renal pode ocorrer em 30% dos casos.
Variabilidade genótipo-fenótipo: classicamente, a DRPAD é uma doença que necessita da hipótese do “second hit”,
ou seja, uma mutação somática adquirida após a fecundação. A gravidade dessa segunda mutação pode influenciar na apresentação clínica. Além disso, nem todos os casos são secundários a mutações em PKD1 ou PKD; vários outros genes têm sido identificados. Até o momento, 13 outros genes podem causar o fenótipo DRPAD (ALG8, ALG9, DNAJB11, GANAB, HNF1B, IFT140, SEC61B, PKHD1, PRKCSH, SEC63, COL4A3/4/5).
Quais os fatores podem justificar essa variabilidade fenotípica de apresentação clínica? Separamos neste post os
fatores ambientais que podem interferir no fenótipo renal, e desta forma, podem ser alvo de intervenção nos pacientes do nosso consultório:
* Obesidade e ingestão calórica: pacientes com sobrepeso/obesidade apresentam uma maior taxa de crescimento cístico. Estimular a perda de peso e a restrição calórica parece ser uma medida simples e útil, mas com evidências limitadas
* Ingestão de sal e proteínas: análises retrospectivas das grandes coortes de pacientes com DRPAD mostram uma associação entre excreção urinária de sódio, maior volume renal total (TKV) e maior declínio da TFGe; por isso, recomenda-se limitar a ingestão de sal e aumentar a de água
* Ingestão de água: a ativação dos receptores V2 pela vasopressina é uma etapa importante da fisiopatologia da doença. O principal tratamento da doença, o tolvaptan, age justamente reduzindo a ação da vasopressina. Aumentar a ingestão de água é uma forma simples de reduzir a liberação da vasopressina endógena. É importante ressaltar que estudos de intervenção para ingestão hídrica não modificaram a evolução da doença, porém uma limitação importante foi a adesão dos pacientes
* Tabagismo: é um importante fator de risco para doenças vasculares. As doenças cardiovasculares são a
principal causa de morte em pacientes com DRPAD. Pacientes com DRPAD que fumam possuem três vezes mais eventos cerebrovasculares. Devemos estar atentos à necessidade de estratégias para cessação.
Até o momento, não podemos modificar a genética de um paciente com DRPAD; porém, essa variabilidade entre pessoas da mesma família deve nos chamar a atenção para a importância de tratar os fatores de risco modificáveis