O estudo publicado na JAMA Network Open ([link](https://jamanetwork.com/journals/jamanetworkopen/fullarticle/2822721)) em setembro de 2024 investigou a relação entre a dose de tiazídicos, a redução do cálcio urinário e os eventos de cálculos renais sintomáticos. Tiazídicos, como hidroclorotiazida e clortalidona, são amplamente utilizados na prevenção de cálculos renais recorrentes, porém seu uso recente foi questionado após o estudo** NOSTONE** (tem post**[ aqui](https://www.nefroatual.com.br/nefroupdates/posts/hidroclorotiazida-na-prevencao-de-nefrolitiase-devemos-abandonar-o-uso)**), que não mostrou benefícios significativos. O novo estudo propôs avaliar se a redução do cálcio urinário era dose-dependente e, consequentemente, associada à diminuição dos eventos sintomáticos de cálculos renais.
A análise retrospectiva incluiu 634 pacientes com idade média de 67,6 anos. Eles foram categorizados em três grupos com base na dose de tiazídico (**baixa, média e alta**) e na magnitude da redução de cálcio urinário após o início do tratamento. A redução do cálcio foi dose-dependente, com a maior redução observada no grupo de dose elevada: uma queda média de 104,6 mg/d de cálcio urinário (28,4% de redução). Esses resultados contrastam com os achados do estudo NOSTONE, que havia registrado reduções de cálcio urinário entre 42 e 51 mg/d.
* **Dose baixa**: clortalidona \<12,5 mg/dia, indapamida \<0,6125 mg/dia e hidroclorotiazida \<25 mg/dia
* **Dose média**: clortalidona 12,5-25 mg/dia, indapamida 0,6125-1,25 mg/dia e hidroclorotiazida 25-50 mg/dia
* **Dose alta**: clortalidona >25 mg/dia, indapamida >1,25 mg/dia e hidroclorotiazida >50 mg/dia
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A incidência de evento sintomático, definido como **visita a emergência, hospitalização ou necessidade de cirurgia relacionada a litíase**. A curva de Kaplan-Meier para avaliar a incidência cumulativa de eventos sintomáticos relacionados a cálculos renais. Após 4 anos, os pacientes que tiveram a maior redução de cálcio urinário (grupo de alta dose) apresentaram uma menor taxa de recorrência de cálculos sintomáticos (18%) em comparação aos grupos de baixa dose (28,8%) e média dose (19,5%).
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Tiramos de conclusão do estudo que a redução de cálcio urinário, especialmente com doses mais altas de tiazídicos, está diretamente associada à redução de eventos de cálculos renais sintomáticos. No entanto, limitações como o possível viés de variáveis não mensuradas e a amostra predominantemente composta por idosos podem limitar a generalização dos resultados. Ainda assim, os achados sugerem que o monitoramento e ajuste da dose de tiazídicos com base no cálcio urinário pode ser uma estratégia útil para reduzir a recorrência de
cálculos renais.
**Opinião do Nefroatual **
Os resultados deste estudo indicam que a personalização da dose de tiazídicos, com monitoramento da excreção de cálcio urinário, pode ser uma abordagem eficaz na redução da recorrência de cálculos renais. A identificação precoce de pacientes que podem se beneficiar de doses mais altas de tiazídicos pode ajudar a melhorar os desfechos clínicos e diminuir a necessidade de intervenções mais invasivas.