Nada é mais frustrante para o nefrologista que trabalha com diálise peritoneal (DP) do que lidar com um
cateter de Tenckhoff (TK) disfuncionante. O mau funcionamento do cateter de diálise peritoneal é uma causa significativa de falha técnica na DP. Este problema pode ocorrer devido a dificuldades tanto na infusão (inflow) quanto na drenagem (outflow).
Optamos por abordar esse tema de maneira prática, conforme apresentado no Core curriculum 2023 do AJKD disponível aqui ([link](https://www.ajkd.org/action/showPdf?pii=S0272-6386%2823%2900649-2)).
Problemas na drenagem
Disfunção na drenagem pode ocorrer devido à constipação, migração da ponta do cateter ou envolvimento do
cateter pelo omento/intestino. A constipação leva à dilatação das alças e à obstrução extraluminal, sendo esta a principal causa de disfunção.
A constipação e a migração da ponta do cateter podem ser facilmente avaliadas por meio da radiografia do
abdome, e medidas laxativas devem ser iniciadas, muitas vezes empiricamente. O envolvimento do cateter pelo omento também pode causar obstrução na drenagem devido à pressão negativa.
Medidas laxativas resolvem aproximadamente 50% dos casos de problemas de fluxo de cateteres de DP. Sempre
que nos depararmos com um cateter apresentando problemas de infusão e drenagem, devemos considerar a possibilidade de obstrução intraluminal (por exemplo, coágulo de fibrina) ou extraluminal (por exemplo, acotovelamento do cateter ou bainha de fibrina).
Casos com obstrução que dificultem a drenagem devem ser tratados com medidas laxativas e intervenções
físicas. Um processo de irrigação com 50 mL de soro fisiológico 0,9% pode auxiliar no deslocamento parcial de uma obstrução causada pelo omento.
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Problemas com infusão e drenagem (bidirecional)
Diante de dificuldades na infusão e drenagem, podemos tentar um flush com solução salina com o objetivo de
deslocar coágulos de fibrina. A presença de coágulos de fibrina visualizados na drenagem pode sugerir esta etiologia. Caso a irrigação não seja efetiva, podemos considerar o uso de agentes fibrinolíticos.
Oclusões parciais podem ser tratadas com heparina. Podemos adicionar 2000 UI de heparina em 2 L de solução
ou 4000 UI na bolsa de 5-6L. A frequência dependerá da intensidade dos coágulos.
Oclusões totais podem ser manejadas com agentes fibrinolíticos, como Alteplase (dose de 4 mg) ou
Uroquinase (5000 UI). O volume de infusão deve ser ajustado de acordo com o tamanho do cateter de Tenckhoff (TK) e o kit de transferência. É importante manter o lock por 1-2 horas.
Se essas medidas conservadoras não forem efetivas, a manipulação guiada por fluoroscopia ou intervenções
cirúrgicas podem ser necessárias.
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