Cefaleia relacionada à hemodiálise (HD) é classificada como uma cefaleia de causa secundária. Tipicamente, ocorre após algumas horas do início da sessão de HD em pacientes sem histórico de cefaleia crônica.
Esses episódios de cefaleia são leves a moderados, com localização frontal e bilateral, que pioram com o decúbito; nos casos mais graves, associam-se a náuseas. A prevalência da cefaleia relacionada à diálise varia de 27% a 75%, dependendo do critério utilizado.
Este é um resumo deste excelente artigo de revisão sobre o tema ([link](https://headachejournal.onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/head.12875)).
Devemos considerar esse diagnóstico em pacientes com episódios de cefaleia que iniciam ou pioram durante a sessão de hemodiálise, com resolução em até 72 horas após o término da HD. Na grande maioria dos casos, a cefaleia inicia após a segunda hora de HD.
A fisiopatologia não está completamente elucidada; a principal hipótese é que variações súbitas da
pressão arterial e dos níveis de solutos/eletrólitos (ureia, sódio, magnésio) liberem fatores vasomotores e desencadeiem os episódios de cefaleia. Baixos níveis séricos de magnésio e elevados níveis de cálcio/magnésio no dialisato são fatores implicados. Também foi descrito que alterações transitórias nos níveis cerebrais de serotonina, vasoconstrição, hipoxemia e desequilíbrio do eixo renina-angiotensina-aldosterona podem contribuir para os episódios de cefaleia.
Como fatores desencadeantes, são citados:
* Abstinência de cafeína (removida pela diálise)
* Dialisato com acetato
* Hipertensão ou hipotensão intradialítica
* Síndrome da água dura (altos níveis de cálcio e magnésio no dialisato)
* Intoxicação por cloramina/flúor
* Hipomagnesemia (parece existir um efeito de vasoespasmo)
Como medidas de prevenção:
* Estimular o consumo de cafeína durante a sessão de hemodiálise (para pacientes com alto consumo de cafeína). É improvável que a cafeína isoladamente seja responsável pelo quadro, mas pode contribuir.
* Monitorar perfis de sódio e UF para evitar rápidas alterações na pressão arterial.
* Reduzir o fluxo de sangue (HD mais suave para evitar gradientes de solutos no cérebro).
* Utilizar dialisato com bicarbonato (evitar acetato).
Quanto ao tratamento, não existem evidências que orientem um tratamento específico, mas algumas condutas podem ser testadas:
* Cafeína: administração de 100 mg de cafeína (para pacientes com consumo > 200 mg/dia).
* Amitriptilina/clorpromazina.
* Inibidores da ECA.
* Suplementação com magnésio (se hipomagnesemia).
Comenta aqui se você tem experiência com alguma destas abordagens!