A nefrite lúpica (NL) é uma das principais complicações em pacientes com Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES),
ocorrendo em quase 40% dos casos. A preservação da função renal está diretamente relacionada a uma rápida e sustentada supressão da atividade do LES, mas apenas uma pequena parcela dos pacientes alcança uma resposta completa da doença em 12 meses.
O tratamento atual da NL proliferativa envolve imunossupressão intensiva, utilizando ciclofosfamida ou micofenolato de mofetila, juntamente com altas doses de glicocorticoides, em um período de indução de 3 a 6 meses. Isso é seguido por um período de manutenção com imunossupressão menos intensa.
O belimumabe, um anticorpo monoclonal recombinante humano (G1λ), é eficaz e aprovado para uso no tratamento da NL. O estudo BLISS-LN é uma das principais evidências que respaldam seu uso nessa condição ([link](https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2001180)).
Vamos relembrar o estudo BLISS-LN?
O estudo BLISS-LN avaliou pacientes com NL de novo e recidiva de NL, sendo evidenciado benefício do belimumabe em atingir uma resposta renal eficaz quando comparado a pacientes com terapia padrão + placebo. Pacientes foram estratificados de acordo com regime de indução e raça.
Estudo fase 3, duplo-cego, randomizado, placebo controlado com 104 semanas de duração. Pacientes
randomizados para receberem belimumabe.
Posologia: 10 mg/kg nos dias 1, 15 e 29, com manutenção 10 mg/kg a cada 4 semanas (por 2 anos)
![](</Belimumabe 2.webp>)
Os critérios de inclusão abrangiam adultos com diagnóstico de LES, relação proteína-creatinina (RPC) ≤ 1
g/g e biópsia renal com NL classe III ou IV (com ou sem classe V). Foram excluídos pacientes em diálise >1 ano, TFGe ≤30 mL/min/1,73m² e falência a tratamentos com micofenolato e/ou ciclofosfamida previamente, ou tratamento com terapias dirigidas para células B.
Um total de 448 pacientes foram randomizados (224 receberam belimumabe e 224 receberam placebo). A maioria dos pacientes era do sexo feminino (88%), idade média de 34 anos, e apresentavam A RPC média de 3,4 (±3,2) g/g e TFGe de 100,5 (±40,2) mL/min/1,73m².
Quanto a classificação histológica, 58% possuíam formas proliferativas (NL classe III ou IV), 26% possuía associação (NL classe III+V ou IV+V) e 3,4% apenas classe NL classe V.
Resultados da intervenção:
Com 2 anos de tratamento foi observado que eficácia do belimumabe quanto desfecho primário, sendo observado
eficácia em 43% (96 de 223) vs. 32% (72 de 223 pacientes), OR, 1.6; IC 95%, 1.0 a 2.3; p=0.03) no grupo belimumabe e placebo, respectivamente.
![](</Belimumabe 1.webp>)
Mais pacientes do grupo belimumabe alcançaram resposta renal completa 30% vs. 20%; OR, 1.7; IC 95%, 1.1
a 2.7; p=0.02), com RPC\<0,5 g/g.
Foi observado uma menor taxa de eventos renais ou morte no grupo belimumabe, OR, 0,51;IC 95%, 0,34 a 0,77,
p=0,001.
Nas análises de subgrupo, os pacientes tratados com micofenolato tiveram uma maior taxa de resposta
completa, no entanto esta diferença não foi observada no grupo ciclofosfamida-azatioprina. Foi observado eficácia para pacientes da raça negra, apesar de serem \<15% dos pacientes.
Em relação ao desfecho de segurança foram observadas taxas semelhantes de infeção. Nenhuma morte
atribuída a NL foi relatada.
Opinião Nefroatual
No Lupus Eritematoso Sistêmico, observa-se uma produção aumentada de células B ativadas, justificando o
uso de agentes que bloqueiam ou neutralizam essa ativação.
O estudo BLISS-LN avaliou número significativamente maior de pacientes e um período de acompanhamento mais
extenso em comparação a estudos anteriores sobre NL. Demonstrou-se a eficácia ao adicionar o belimumabe à terapia padrão, com um desmame rápido de corticoides.
Este estudo é crucial ao evidenciar os benefícios da inclusão do belimumabe em adição ao esquema padrão
de tratamento. Uma informação relevante é a alteração no desfecho primário do estudo, com a exclusão da avaliação do sedimento urinário e do clearance de creatinina. Essa revisão foi realizada para preservar a integridade dos resultados da pesquisa.
É fundamental não considerar o belimumabe como um tratamento isolado para a NL. Até o momento, não temos
conhecimento sobre seu papel no tratamento de pacientes cuja terapia de indução falhou ou daqueles com recidiva. Em um estudo envolvendo pacientes com NL recidivante, o belimumabe não demonstrou melhoria nos resultados em pacientes que receberam ciclofosfamida e rituximabe ([link](https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32755035)).
Em resumo, o belimumabe pode desempenhar um papel aditivo no tratamento de indução com micofenolato de
mofetil em pacientes com NL ativa. É crucial selecionar cuidadosamente os pacientes que podem se beneficiar dessa abordagem. O belimumabe pode ser integrado a uma variedade em expansão de opções de tratamento adjuvante para NL, incluindo novos inibidores de calcineurina e anticorpos direcionados para células B.