A trombose de acessos vasculares é uma complicação frequente em pacientes em hemodiálise, levando a altas taxas de morbidade, interrupções no tratamento e aumento dos custos. Este ensaio clínico randomizado multicêntrico, publicado no Kidney International ([link](https://www.kidney-international.org/article/S0085-2538(24)00792-0/abstract)), avaliou a eficácia e a segurança do apixaban, um anticoagulante oral direto, na prevenção de trombose recorrente após trombectomia de acesso vascular.
O estudo incluiu 186 pacientes submetidos a trombectomia bem-sucedida em até 48 horas antes da randomização. Os participantes foram divididos em dois grupos: um recebeu apenas o cuidado padrão (antiplaquetários por 14 dias, seguidos de manutenção individualizada), enquanto o outro recebeu o cuidado padrão associado ao apixaban (2,5 mg duas vezes ao dia) por 90 dias.
Observação: foram excluídos pacientes com história de hemorragia intracraniana; eventos hemorrágicos clinicamente relevantes dentro de 3 meses antes da randomização; uso simultâneo de antiplaquetários duplos ou varfarina; cirurgia programada; stent coronário planejado colocação nos 3 meses seguintes; níveis de hemoglobina abaixo de 7,0 g/dl ou contagem de plaquetas <80.000/mm³ ou hepatopatia moderada/grave; e uma bioprótese ou válvula mecânica
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Os endpoints primários incluíram a taxa de trombose do acesso em três meses, enquanto endpoints secundários avaliaram falhas de patência primária e eventos adversos.
Os resultados mostraram que o apixaban reduziu significativamente a ocorrência de trombose em três meses (24,0% no grupo apixaban versus 40,8% no grupo controle; HR: 0,52; IC 95%: 0,31–0,88). A falha de patência primária também foi menor no grupo tratado (32,2% vs. 49,5%; HR: 0,57; IC 95%: 0,36–0,91). Em seis meses, os benefícios persistiram, com taxas de trombose de 37,6% no grupo apixaban contra 50,5% no grupo controle. Embora a incidência de sangramentos menores tenha sido maior no grupo apixaban (22,6% vs. 7,5%), não houve aumento significativo em eventos de sangramento maior ou mortalidade.
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A análise de subgrupos confirmou a eficácia do apixaban independentemente do tipo de acesso (fístula ou prótese), uso concomitante de antiplaquetários ou severidade das comorbidades. Esses resultados destacam a viabilidade de um regime de anticoagulação mais eficaz e seguro no manejo de acessos vasculares de hemodiálise.
Impacto prático: O uso do apixaban oferece uma estratégia promissora para prevenir complicações trombóticas em pacientes em hemodiálise, melhorando a sobrevida dos acessos vasculares e reduzindo a necessidade de intervenções repetidas. Essa abordagem é muito interessante pois utiliza anticoagulantes nos primeiros 3 meses pós trombectomia, período de maior risco de trombose, minimizando assim a exposição prolongada e risco de sangramentos maiores.