Caso muito ilustrativo da importância da biópsia renal (**[link aqui](https://journals.lww.com/kidney360/fulltext/2024/05000/an_elderly_patient_with_progressive_kidney_failure.24.aspx)**)!
Paciente de 68 anos foi internado com disfunção renal progressiva após consumir cerca de 250 g de espinafre por 3 dias. Apresentava quadro de perda ponderal e diarreia com fezes oleosas nos 3 meses que antecederam a admissão.
Apresentava como antecedentes um quadro de DM2, colecistite e episódios de pancreatite agudas devido a cálculos na vesícula biliar.
Na internação apresentava creatinina sérica (Cr) de 7,05 mg/dl, porém apresentava exames de 6 meses antes com Cr de 0,83 mg/dl. Procedido com biópsia renal que demonstrou lesão tubular extensa, infiltrado com células inflamatórias em interstício e cristais de oxalato difusamente distribuídos no lúmen tubular e nas células epiteliais (Figura 1A), com cristais birrefringentes observados no tecido renal sob luz polarizada (Figura 1B).
![](</cristais no.webp>)Imagens típicas da biópsia renal revelando formação de cristais de oxalato. (A) As setas pretas e amarelas indicaram cristais de oxalato intratubular e intracelular difusamente, respectivamente. As células epiteliais tubulares foram danificadas, com edema intersticial e um grande infiltração de células inflamatórias. (B) Sob luz polarizada, cristais birrefringentes amplamente distribuídas
A tomografia computadorizada mostrou múltiplas calcificações e atrofia do pâncreas (Figura 2A), além de cálculos renais (Figura 2B). O nível de elastase-1 pancreática foi \<5,0 mcg/g (valor de referência, >200 mcg/g).
![](</tc no.webp>)Imagens de TC abdominal do paciente com NO associada à pancreatite crônica. (A) Uma tomografia computadorizada abdominal com atrofia significativa e múltiplas calcificações pancreaticas.
**Conclusão**: foi estabelecido o diagnóstico de **pancreatite crônica e nefropatia secundária por oxalato (NO)**. Apesar de receber terapia de hemodiálise, reposição de enzimas pancreáticas, suplementos orais de cálcio e administração de citrato de sódio, a função renal do paciente não se recuperou, necessitando de hemodiálise crônica.
**Aprendizado com o caso**
A NO é uma condição clínica rara caracterizada pela deposição de cristais de oxalato de cálcio no parênquima renal. A NO secundária pode ser causada por vários fatores subjacentes, incluindo aumento da ingestão de oxalato na dieta ou má absorção de gordura devido a condições como cirurgia de bypass gástrico em Y-de-Roux, doença de Crohn e pancreatite crônica.
Neste caso, a insuficiência pancreática crônica com insuficiência exócrina leva à má absorção de gordura, contribuindo para a hiperoxalúria entérica e NO. É importante ter o conhecimento de que a pancreatite crônica foi identificada como uma das principais causas de NO secundária. A administração precoce de enzimas pancreáticas pode atenuar a progressão da NO. O prognóstico da NO relacionada à pancreatite crônica é tipicamente desfavorável, com uma incidência cumulativa de doença renal em estágio terminal atingindo 41%.
Devemos **considerar fortemente a realização de biópsia renal em pacientes que desenvolvem insuficiência renal aguda de etiologia incerta. **Uma vez diagnosticado NO, deve-se prestar atenção cuidadosa à avaliação da função exócrina pancreática e evitar dietas ricas em oxalato.