Imagine o caso de um paciente com doença renal crônica em hemodiálise, que se apresenta com edema cervical e dificuldade respiratória na clínica satélite. Durante a avaliação, é identificado que o paciente possui cateter de hemodiálise na veia jugular interna direita e que há suspeita de trombose. Mas, qual é o diagnóstico correto? Será uma trombose do próprio cateter ou uma trombose da veia jugular? E como diferenciar essas condições
para definir a melhor conduta?
Hoje, vamos abordar a diferença entre a trombose do cateter de hemodiálise e a trombose da veia jugular, detalhando as características clínicas, os métodos de diagnóstico e as abordagens terapêuticas para cada
situação, vamos nessa? 😊
Diferença entre Trombose de Cateter de Diálise e Trombose da Veia Jugular
Trombose de Cateter de Diálise
A trombose do cateter de diálise é uma complicação relativamente comum, especialmente em cateteres de longa permanência. Essa condição ocorre quando há formação de trombos dentro do lúmen do cateter ou ao seu redor, prejudicando o fluxo sanguíneo adequado durante a hemodiálise. A presença de um cateter pode desencadear uma resposta inflamatória na parede vascular, promovendo a adesão de plaquetas e a formação de coágulos (figura 1)
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Sintomas e Diagnóstico
Os sintomas da trombose do cateter incluem dificuldade para aspirar ou infundir sangue através do cateter, baixo fluxo durante as sessões de hemodiálise, e aumento das pressões venosas ou arteriais no circuito de diálise. O diagnóstico é geralmente clínico, baseado nesses sinais.
Trombose da Veia Jugular
Por outro lado, a trombose da veia jugular interna é uma complicação mais grave e ocorre quando há formação de um trombo na própria veia, independentemente do cateter. Esta condição pode ser causada pelo próprio cateter, mas também pode resultar de outros fatores, como infecção, trauma vascular ou estados de hipercoagulabilidade.
Sintomas e Diagnóstico
Os sintomas da trombose da veia jugular incluem edema no pescoço, dor local, distensão das veias superficiais do pescoço e, em casos mais graves, dificuldade respiratória e até mesmo disfagia. O diagnóstico é feito principalmente através de ultrassonografia com Doppler, que pode mostrar a ausência de fluxo ou a presença de um trombo dentro da veia jugular. A tomografia computadorizada ou a venografia são exames complementares que podem ser necessários em casos complexos ou duvidosos.
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Como Diferenciar as Duas Condições?
A chave para diferenciar a trombose de cateter da trombose da veia jugular é o exame clínico minucioso e o uso apropriado de exames de imagem. No caso da trombose de cateter, os sinais e sintomas estarão geralmente relacionados ao mau funcionamento do cateter durante a diálise, enquanto a trombose da veia jugular pode apresentar sinais de congestão venosa no pescoço, dor, ou até mesmo sintomas sistêmicos.
O ultrassom com Doppler é uma ferramenta essencial para essa diferenciação. A visualização de um trombo dentro da luz do cateter ou aderido à parede interna sugere trombose do cateter, enquanto a visualização de trombose
ao longo do trajeto da veia jugular, sem envolvimento direto do cateter, indica trombose venosa.
Tratamento das Diferentes Tromboses
O tratamento de cada uma dessas condições exige abordagens específicas e detalhadas para garantir a melhor resposta terapêutica e minimizar complicações.
1\. Tratamento da Trombose de Cateter de Diálise
A trombose de cateter de diálise requer uma abordagem específica, dependendo da localização do trombo (intraluminal ou extraluminal) e da resposta inicial ao tratamento.
Uso de Agentes Trombolíticos:
* Objetivo: Dissolver o trombo que está obstruindo o cateter.
* Agente Principal: Alteplase (ativador do plasminogênio tecidual recombinante).
* Dose Recomendada: 2 mg de alteplase em cada lúmen do cateter.
* Tempo de Infusão: Deixar o agente em contato com o trombo por 30 a 60 minutos. Após esse período, tentar aspirar o conteúdo do cateter e, em seguida, realizar a irrigação com solução salina. Se o fluxo não for restaurado, pode-se repetir o procedimento, deixando o agente trombolítico em contato por um período maior (até 120 minutos ou até a próxima sessão de hemodiálise).
* Repetição do Tratamento: O procedimento pode ser repetido até duas vezes antes de considerar outras intervenções.
Troca de Cateter:
* Indicação: Quando o tratamento trombolítico falha ou há recidiva frequente da trombose.
Uso de Anticoagulação Sistêmica:
* Indicação: Raramente indicada na trombose de cateter, exceto em casos onde há evidência de trombose associada de maior extensão (por exemplo, trombose de veia central associada).
Manejo de Fibrina ou Coágulos Aderidos Externamente (Fibrin Sheath):
* Procedimento: Ruptura da bainha de fibrina usando um cateter balão (angioplastia balonada).
* Indicação: Quando o trombo ou a bainha de fibrina persistem após o uso de agentes trombolíticos ou em caso de disfunção recorrente.
2. Tratamento da Trombose da Veia Jugular
A trombose da veia jugular requer uma abordagem mais agressiva devido ao risco de complicações graves.
Anticoagulação Sistêmica:
* Objetivo: Prevenir a progressão do trombo e novas formações trombóticas.
Medicamentos Utilizados:
* Heparina Não Fracionada (HNF): Para anticoagulação imediata, especialmente em pacientes com risco aumentado de sangramento ou que possam necessitar de procedimentos cirúrgicos.
* Transição para Anticoagulantes Orais: Varfarina ou DOACs para anticoagulação prolongada, mantendo o INR terapêutico por 3 a 6 meses.
* Duração: 3 a 6 meses, dependendo da resposta ao tratamento e da presença de fatores de risco persistentes.
Trombólise Dirigida por Cateter:
* Indicação: Em pacientes com trombose extensa da veia jugular ou com sintomas graves que não respondem à anticoagulação.
* Procedimento: Introdução de um cateter de infusão diretamente no trombo para administração local de agentes trombolíticos.
Trombectomia Cirúrgica:
* Indicação: Em casos de trombose extensa que não respondem à trombólise ou em pacientes com contraindicações para trombólise ou anticoagulação prolongada.
Remoção ou Troca de Cateter:
* Indicação: Quando o cateter de diálise é a causa identificada da trombose da veia jugular.
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Opinião NefroAtual
A trombose do cateter de diálise e a trombose da veia jugular são complicações potencialmente graves, e diferenciá-las é fundamental para a escolha do tratamento adequado. O diagnóstico clínico adequado, guiado
por exames de imagem, permite uma abordagem terapêutica mais eficaz, minimizando complicações e melhorando a qualidade de vida dos pacientes em hemodiálise. A avaliação criteriosa e a rápida intervenção podem fazer toda a diferença no prognóstico desses pacientes. Então fica de olho e saiba diferenciar!
Sei que muitos pensaram... e apixabana, pode??
Este tema será abordado em breve por aqui! 😊