Atualmente, as evidências demonstram amplos benefícios dos inibidores de SGLT2 em relação aos desfechos renais e cardiovasculares na população com diabetes. No entanto, o risco de infecção urinária continua sendo uma preocupação importante para os nefrologistas.
O estudo "Asymptomatic pyuria and bacteriuria are not risk factors for urinary tract infection in women with type 2 diabetes mellitus initiated SGLT2 inhibitors" investigou se a piúria e bacteriúria assintomáticas aumentam o risco de infecção do trato urinário (ITU) em mulheres com diabetes tipo 2 que iniciaram tratamento com iSGLT2. Trata-se de um estudo de coorte prospectivo com 143 mulheres diabéticas tipo 2, cujo objetivo foi avaliar a associação entre piúria/bacteriúria assintomáticas e o desenvolvimento de ITU após o início da medicação.
Foram excluídas pacientes com antecedente de ITU ou infecção genital nos últimos 3 meses, ou que apresentavam alto risco de ITU (doenças urológicas/uso de cateter), câncer ou imunodeficiência.
No início do estudo, 41,5% das pacientes apresentavam piúria e 28,5% bacteriúria, sem sintomas clínicos de ITU. Durante os três meses de acompanhamento, a incidência cumulativa de ITU foi de 20% no grupo total, 25,9% no grupo com piúria e 18,9% no grupo com bacteriúria. No entanto, a análise estatística não mostrou associação significativa entre piúria ou bacteriúria assintomáticas e o risco de ITU. O risco relativo para piúria foi de 1,64, enquanto o de bacteriúria foi de 0,92, sem significância estatística.
Podemos concluir que, no curto período de 3 meses, o fato de as pacientes apresentarem piúria e bacteriúria assintomáticas — comuns em diabéticos — não deve ser considerado um fator que contraindique o uso de iSGLT2. Da mesma forma, a realização de culturas de urina ou a triagem de piúria antes da prescrição de iSGLT2i não é necessária, simplificando a abordagem clínica e reduzindo custos, sem comprometer a segurança.
Opinião do Nefroatual:
Essa é uma questão difícil. Por um lado, os inibidores de SGLT2 trazem benefícios cardiorrenais e auxiliam no manejo de problemas comuns, como hipercalemia, hipomagnesemia, cálculos urinários, sobrecarga de volume e hipertensão. Por outro lado, não queremos causar iatrogenia, como infecções genito-urinárias.
Esse estudo mostra uma aparente segurança. De forma geral, grandes ensaios clínicos randomizados e meta-análises não indicaram aumento significativo no risco de ITU em comparação com o placebo. Apesar das preocupações, devemos considerar os benefícios para a população de alto risco cardiovascular e renal, individualizando as condutas. Na população com ITU de repetição, temos pouca ou nenhuma evidência de segurança.
Link do artigo: [https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37715859/](https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37715859/)