A doença renal policística autossômica dominante (DRPAD) é a quarta causa de falência renal. Intervenções dietéticas, como restrição moderada de sódio, aumento da hidratação, restrição calórica moderada e restrição proteica moderada para pacientes com DRC por DRPAD, são recomendadas.
No entanto, é importante analisar a evidência disponível e conhecer a opinião dos especialistas nesta área. Informações relevantes foram resumidas no artigo de revisão do CJASN, intitulado "Polycystic Kidney Disease Diet: What Is Known and What Is Safe" ([link disponível](https://journals.lww.com/cjasn/abstract/9900/polycystic_kidney_disease_diet__what_is_known_and.250.aspx)).
Duas direções futuras que merecem atenção são a restrição calórica e a dieta cetogênica.
Restrição calórica: Modelos animais demonstraram o benefício da restrição calórica moderada na redução da progressão da DRC. Para pacientes com DRPAD e obesidade, que têm uma forte associação com a progressão para a falência renal, parece razoável adotar a estratégia de restrição calórica, que pode ser de aproximadamente 30%. No entanto, é importante ter cuidado com a população com IMC entre 18,5-24,9 kg/m². O estudo CALERIE ([link disponível](https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5966756/)) mostrou segurança com restrição calórica de 25%, mas é necessário monitorar para evitar a perda de peso em indivíduos com IMC adequado.
Dieta cetogênica: A dieta cetogênica clássica envolve um alto teor de gordura (55-65%), proteína adequada (1 g/kg/dia) e baixo teor de carboidratos (5-10%). A razão para adotar a dieta cetogênica é aumentar a produção de β-hidroxibutirato e acetoacetato, o que poderia ter um efeito benéfico na redução da resistência à insulina, estresse oxidativo e proliferação celular. Estudos pré-clínicos demonstraram a redução dos cistos renais, mas permanece a dúvida se o efeito é devido à cetogênese ou à perda de peso. O grupo que coduz o estudo KETO-APKD tem mostrado benefícios potenciais na redução do crescimento de cistos hepáticos.
Ingestão de água e sal: Baixo consumo de água e alto consumo de sal estão associados ao declínio acelerado da TFGe em pacientes com DRPAD. Estimular um alto consumo de fluidos para minimizar os efeitos da vasopressina é importante. No entanto, estudos recentes não encontraram benefícios claros com a ingestão elevada de água. Portanto, a recomendação continua sendo uma elevada ingestão de água para alcançar urina hipotônica (Osmolalidade urinária \<280 mOsm/kg) associada com baixa ingestão de sal (2,3 gramas de sódio/dia).
Ingesta proteica e dieta baseada em plantas: Não há consenso na literatura sobre a ingestão proteica para a população com DRPAD. Embora o excesso de proteínas contribua para a carga osmolar e liberação de vasopressina, o estudo DIPAK não demonstrou alteração no declínio da TFGe. Recomenda-se evitar uma dieta com ingestão de proteínas superior a 1,3 g/kg/dia para pacientes com DRPAD.
Para pacientes com DRPAD e TFGe \<30 mL/min/1,73m², parece prudente reduzir a ingestão de proteínas para 0,8-1,0 g/kg/dia. Dietas à base de plantas têm demonstrado potenciais benefícios na progressão da DRC, especialmente aquelas ricas em potássio.
Confere como estimar a ingesta de proteínas nesse [post aqui](https://www.nefroatual.com.br/nefroupdates/como-estimar-a-ingesta-proteica-em-paciente-com-drc)
Suplementos ou micronutrientes:
* Cafeína: Embora estudos clínicos não tenham demonstrado efeito em acelerar o crescimento de cistos ou o declínio da TFGe, a recomendação é que os pacientes com DRPAD podem consumir café de forma moderada, ou seja, \<250-500 mg/dia, o que equivale a 2-3 xícaras por dia.
* Curcumina e Ginkolide B: Estudos experimentais em animais mostraram benefícios, mas não há evidência de benefício cardiovascular ou renal em humanos.
* Vitaminas: Estudos pré-clínicos mostraram resultados promissores para a redução da cistogênese em modelos animais, mas a evidência clínica é limitada. Estudos com niacina, vitamina D e vitamina E têm resultados conflitantes.
Mas em resumo, qual seria a recomendação para adotarmos na prática?
Não existe uma recomendação universal, e as principais orientações dietéticas são baseadas em opiniões de
especialistas. Podemos resumir da seguinte forma:
1. Pacientes com sobrepeso/obesidade devemos considerar restrição calórica para perda de peso. Atenção, pois o longo tempo de restrição calórica pode aumentar o risco de perda óssea e anemia.
2. Ao tentar perder peso, recomenda-se um déficit energético moderado de cerca de 30%, que pode ser calculado usando a Taxa Metabólica de Repouso do paciente.
3. Ingesta calórica deve ser moderada em pacientes com IMC normal.
4. A recomendação de macronutrientes pode seguir a seguinte distribuição: 55% de carboidratos, 15% de proteínas e 30% de gorduras.
5. Estimular ingesta hídrica para alcançar uma ruina diluída, isto é, alcançar osmolalidade da urina pela manhã \<280 mOsm/L.
6. Orientar uma restrição moderada de sal (\< 2,3 g de sódio/dia) evitando adicionar sal nas refeições e reduzir consumo de alimentos processados.
7. Para pacientes com TFGe preservada, estimular dieta rica em vegetais e frutas para aumentar ingesta de potássio e reduzir produção de ácidos.
8. Se TFGe ≥30 mL/min/1,73m², estimular ingesta adequada de proteínas, porém evitar exceder >1,3 g/kg/dia .
9. Se TFGe \<30 mL/min/1,73m², limitar ingesta proteica para 0,8-1,0 g/kg/dia.
10. Não existe evidência clínica que limite ou estimulo uso de suplementos ou micronutrientes.