A doença renal crônica (DRC) de causa indeterminada representa aproximadamente 10 a 20% dos casos de doença renal em adultos nos Estados Unidos e Europa, mesmo após extensas investigações, incluindo exames de imagem e biópsias renais. Entre esses casos, até 20% podem estar relacionados a condições genéticas, sendo que variantes nos genes que codificam o colágeno tipo IV são frequentemente detectadas (em até 30% dos casos). No entanto, exames mais abrangentes, como painéis genéticos ou sequenciamento do exoma, podem ser uma escolha para o diagnóstico, dado que muitas vezes a origem genética não está relacionada a variantes nos genes do colágeno.
Indicamos o artigo “Genetics of Chronic Kidney Disease” publicado recentemente no NEJM (link abaixo) para uma revisão mais aprofundada do tema, destacamos neste Post quando devemos considerar testes genéticos na investigação de DRC sem etiologia bem definida.
**Avaliação Clínica e Diagnóstica:**
O primeiro passo para estabelecer um diagnóstico genético é caracterizar muito bem o fenótipo do pacientes, ou seja, a apresentação clínica (evolução clínica, bioquímica, imagem e histologia), complementado por uma história familiar detalhada e a construção de uma árvore genealógica abrangendo três gerações (irmãos, pais, tios e avós) na busca de doença renal. É importante destacar que a ausência de histórico familiar de doença renal não exclui a possibilidade de DRC de origem genética.
A eficácia dos testes genéticos em pacientes com DRC é variável, dependendo do fenótipo da doença, condições associadas, etnia, consanguinidade, histórico familiar e idade de início. Diversos estudos demonstram que, ao seguir critérios estabelecidos, é possível alcançar um rendimento diagnóstico elevado em pacientes submetidos a testes genéticos, especialmente em centros de nefrologia focadas em diagnósticos genéticos, onde a taxa de sucesso varia entre 40% e 57%.
***Dica: Durante a avaliação inicial do paciente, é comum que ele não esteja totalmente ciente do histórico familiar de DRC. Nesse momento, é fundamental orientá-lo a conversar com outros familiares para verificar se há casos conhecidos de DRC na família, o que pode auxiliar na compreensão dos possíveis fatores hereditários.***
**Confere abaixo os cenários indicados para considerar a realização de um teste genético:**
* Histórico familiar de doença renal, diálise ou transplante renal
* Consanguinidade
* Manifestações extrarrenais
* Características dismórficas ou sindrômicas
* Insuficiência renal em idade jovem (\< 50 anos)
* Doença renal cística
* DRC de origem desconhecida
* Síndrome nefrótica resistente a esteroides
* Hematúria glomerular crônica, proteinúria ou GESF (glomeruloesclerose segmentar e focal) de causa incerta
* DRC com início na infância
* Suspeita clínica ou diagnóstico clínico real de um distúrbio genético específico
Descobrir a causa genética subjacente da DRC pode melhorar a precisão diagnóstica, influenciar o monitoramento e tratamento direcionado, e, em muitos casos, evitar a necessidade de procedimentos diagnósticos invasivos como a biópsia renal. Além disso, a identificação do componente genético possibilita o aconselhamento genético para o planejamento familiar.
**Resumo de Impacto Prático:**
A incorporação de testes genéticos no manejo de pacientes com DRC de causa desconhecida pode melhorar significativamente a precisão diagnóstica, reduzir a necessidade de procedimentos invasivos e evitar tratamentos imunossupressores inadequados. A identificação de variantes genéticas não só aprimora o monitoramento e tratamento, como também impacta diretamente no planejamento familiar dos pacientes, oferecendo uma abordagem mais personalizada e eficaz para o manejo da DRC.
Genetics of Chronic Kidney Disease ([https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1813869](https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1813869))