Na ASN 2023 foram apresentados os resultados primários do Estudo ALCHEMIST (ALdosterone Antagonist Chronic
HEModialysis Interventional Survival Trial), que avaliou o impacto do tratamento com espironolactona em pacientes com hemodiálise crônica e a prevenção de complicações cardiovasculares. \[[Link para o estudo](https://www.asn-online.org/education/kidneyweek/2023/program-abstract.aspx?controlId=3978628)]
Qual a importância desse estudo?
A taxa de mortalidade cardiovascular é 10-20 vezes maior nos pacientes em diálise quando comparada à população geral; em pacientes mais jovens, essa taxa é 100 vezes maior. Dessa forma, estratégias para reduzir tais desfechos são necessárias.
Ensaios clínicos importantes relatam que os antagonistas dos receptores mineralocorticóides reduzem os
riscos de morte cardiovascular ou hospitalização por insuficiência cardíaca na população sem DRC com insuficiência cardíaca. Como o excesso de aldosterona está associado a piores resultados na DRC, o bloqueio dos efeitos da aldosterona com antagonistas dos receptores mineralocorticóides poderia ser uma estratégia interessante para melhorar os resultados clínicos na DRC.
Este estudo ALCHEMIST recrutou pacientes em programa de hemodiálise com pelo menos uma comorbidade
cardiovascular ou fator de risco cardiovascular de 64 centros na França, Bélgica e Mônaco. Um total de 644 pacientes foram randomizados e receberam tratamento com espironolactona (25 mg/dia) (n=320) ou placebo (n=324).
O desfecho primário avaliado foi o tempo até a ocorrência de infarto do miocárdio não fatal, síndrome coronariana aguda, hospitalização por insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral não fatal ou morte por causa cardiovascular.
Analisando o estudo, foi observado que o tratamento com espironolactona não reduziu significativamente a
incidência do desfecho composto primário em comparação com o placebo (HR, 0,996; IC, 0,729-1,362; p = 0.9819). Uma análise adicional dos componentes individuais do desfecho primário revelou que a incidência de hospitalização por insuficiência cardíaca foi significativamente menor no grupo da espironolactona (HR, 0,412; IC, 0,171-0,995; p = 0.0487).
Opinião Nefroatual:
Baseado no estudo ALCHEMIST, não devemos iniciar o uso da espironolactona em pacientes em hemodiálise com o
intuito de reduzir eventos cardiovasculares.
Uma dica importante: nos pacientes em hemodiálise, podemos utilizar a espironolactona com a finalidade
de tratar hipocalemia ou hipertensão resistente, lembrando que esse uso é off-label e só deve ser considerado para pacientes que possuem potássio sérico persistentemente abaixo de 5,5 mmol/L.