O risco de eventos cardiovasculares permanece elevado em pacientes submetidos a transplante renal
quando comparado a população geral. Esse risco decorre devido uso de medicamentos imunossupressores e complicações como hipertensão, diabetes e dislipidemia.
Os inibidores SGLT2 são medicamentos efetivos em reduzir a taxa de eventos cardiovasculares na população de pacientes de alto risco, com e sem diabetes. Os mecanismos fisiopatológicos de proteção de doenças cardiovasculares com iSGLT2 descritos são: natriurese, modulação das vias inflamatórias e a preservação da função endotelial. Considerando esses mecanismos, espera-se que os iSGLT2 também tenha benefícios cardiovasculares em pacientes transplantados renais.
Para estudar o tema foi publicado no KI reports o estudo “Cardioprotective Effect of SGLT2 Inhibitor in Diabetic
Kidney Transplant Recipients: Q1 A Multicenter Propensity Score Matched Study” ([link aqui](https://www.kireports.org/action/showPdf?pii=S2468-0249%2824%2901745-5)).
Este foi um estudo multicêntrico que avaliou o efeito cardioprotetor dos inibidores de SGLT2 em pacientes com diabetes que receberam transplante renal. Foi realizada uma análise retrospectiva de dados de seis hospitais terciários da Coreia , envolvendo 750 receptores de transplante renal com diabetes, com diagnóstico de diabetes prévio ou após transplante renal, dos quais 129 receberam tratamento com inibidores de SGLT2. A coorte foi ajustada utilizando escore de propensão para equilibrar as características entre os grupos tratados e não
tratados com SGLT2i. Foram excluídos pacientes com transplante de pâncreas, eventos cardiovasculares com \<3 meses ou uso prévio de iSGLT2.
Os principais desfechos avaliados incluíam a incidência de eventos cardiovasculares adversos maiores (MACE), que
englobavam infarto do miocárdio (IM), morte por causas cardiovasculares, hospitalização por insuficiência cardíaca e acidente vascular cerebral.
Resultados:
Entre os 750 pacientes a mediana de idade foi de 55 anos, a maioria homens (\~70%) e mediana de seguimento de 56 meses. O iSGLT2 foi iniciado com mediana de 13,4 meses após o Tx renal. A taxa de diabetes mellitus pós-transplante foi de 20,2% no grupo SGLT2i e 15,3% no grupo não SGLT2i.
Após o ajustes, o estudo observou que o uso dos iSGLT2 estava associado a uma redução significativa na incidência de MACE (4,7% vs. 12,6%; p\<0,015). É importante citar que não houve diferenças significativas na incidência de infecções do trato urinário entre os grupos, o que é uma preocupação já que são pacientes imunossuprimidos.
Quando analisado separadamente para cada componente MACE, a incidência de IM e morte por causas cardiovasculares foi significativamente menor no grupo iSGLT2 do que no grupo não-SGLT2i (IM: 1,6% vs. 8,9%, p\<0,008; morte cardiovascular: 0 vs. 3,2%, p\<0,034). O risco de AVC e hospitalização por insuficiência cardíaca permaneceu inalterada no SGLT2i grupo.
Neste estudo, os efeitos do iSGLT2 foram maiores em pacientes mais jovens e com maior IMC.
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Opinião Nefroatual:
Os resultados do estudo sugerem que os inibidores SGLT2 podem oferecer benefícios significativos na redução dos riscos cardiovasculares em pacientes transplantados renais com diabetes, uma descoberta particularmente relevante considerando o alto risco cardiovascular neste grupo. A incorporação dos iSGLT2 no regime de tratamento pós-transplante pode melhorar os desfechos cardiovasculares e, potencialmente, a sobrevida dos
enxertos e dos pacientes.
Destacamos que é um estudo retrospectivo, logo, com diversos fatores de confusão, devemos ter cautela e individualizar prescrição.