Pacientes em hemodiálise podem apresentar limitação na velocidade da marcha no dia a dia. Porém pouco se sabe sobre as implicações da dessa limitação física nos pacientes em HD.
A velocidade da marcha é uma ferramenta de avaliação confiável para prever muitas resultados adversos relacionados à saúde em e pacientes com doenças crônicas. A capacidade de reserva de marcha (CRM) pode ser avaliada através de dois testes, o ritmo usual de marcha (RUM) e a velocidade máxima da
marcha (VMM).
O estudo “Reserved gait capacity and mortality among patients undergoing hemodialysis” publicado no NDT em 2023 fez uma avaliação retrospectiva de pacientes em HD e teve como objetivo investigar a associação entre capacidade de marcha (CRM) e mortalidade por todas as causas em pacientes submetidos à HD.
O RUM e o VMM foram avaliados antes da sessão de hemodiálise, cronometrados na distância de 10 m e 16 m
usando um cronômetro. Ambos os ensaios foram medidos e expressos em metros por segundo (m/s). A CRM foi calculada realizando a relação VMM÷RUM, sendo considerado uma capacidade baixa, moderada e elevada os seguintes parâmetros:
* Baixo \<1,25
* Moderada 1,25-1,39
* Elevada >1,39
Pontos importantes do estudo
* Foram avaliados 496 pacientes em hemodiálise
* Como esperado, foi observado que pacientes com CRM elevada ou moderada apresentaram menores
taxas de mortalidade: 0,44 (0,3-0,65) e 0,66 (0,46-0,94), respectivamente, quando comparados a pacientes com baixa CRM (figura abaixo)
* A VMM foi um melhor preditor prognóstico do que o RUM
* Foi observado que o aumento do CRM estava associado com maior força muscular (ou seja, marcador muscular qualitativo), enquanto não estava claramente associado ao IMC e à massa muscular (ou seja, marcadores musculares)
* Os resultados mostram uma associação entre CRM e mortalidade implicam que a CRM poderia ser um marcador muscular altamente prognósticas nesta população
* Menores níveis de albumina, creatinina e hemoglobina se associam com menor CRM
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##### O que isso deve nos alertar em termos práticos?
Devemos não apenas ter noção de que pacientes com baixa capacidade de marcha possuem elevada mortalidade, mas agir ativamente para melhorar tal cenário.
Aqui estão listadas 10 medidas que os nefrologistas podem (e devem) prescrever e/ou solicitar seguimento do
especialista:
1. Avaliação Geriátrica Abrangente: Realizar uma avaliação geriátrica abrangente (ou encaminhar para o geriatra) para identificar fatores contribuintes específicos para a baixa capacidade de marcha, incluindo fraqueza muscular, equilíbrio precário, dor, problemas de visão, e uso de medicações que possam afetar a mobilidade.
2. Fisioterapia Individualizada: encaminhar o paciente para realização de um programa de fisioterapia individualizado focado em exercícios de fortalecimento muscular, treino de equilíbrio, e técnicas de marcha para melhorar a força, o equilíbrio, e a coordenação.
3. Reabilitação Multimodal: Incorporar técnicas de reabilitação multimodal, como hidroterapia, treino de resistência, e exercícios aeróbicos de baixo impacto, para melhorar a capacidade física geral e a resistência.
4. Ajuste de Medicações: Revisar e ajustar o regime de medicações do paciente para minimizar os efeitos colaterais que podem afetar a mobilidade, como sedação ou hipotensão ortostática (cuidado com clonazepam, zolpidem e trazodona.
5. Manejo da Dor: Implementar estratégias eficazes de manejo da dor, incluindo medicações, terapias físicas, e intervenções psicológicas, para pacientes que sofrem de condições dolorosas que limitam a capacidade de marcha.
6. Suporte Nutricional: Avaliar e otimizar o estado nutricional do paciente, com ênfase na ingestão adequada de proteínas e vitaminas essenciais para a manutenção da massa muscular e da saúde óssea.
7. Avaliar a necessidade de uso de ajudas técnicas: Avaliar a necessidade de dispositivos de auxílio à marcha, como bengalas, andadores, ou órteses, para promover a independência e a segurança ao caminhar.
8. Educação do Paciente e da Família: Fornecer educação sobre estratégias de prevenção de quedas, a importância da atividade física regular, e como manter um ambiente doméstico seguro para evitar acidentes.
9. Intervenção Psicológica: Considerar intervenções psicológicas para abordar medos, ansiedade, ou depressão, que podem afetar a motivação do paciente para participar de atividades físicas e melhorar a capacidade de marcha.
10. Acompanhamento Regular: Estabelecer um plano de acompanhamento regular para monitorar o progresso do paciente, ajustar o plano de tratamento conforme necessário, e fornecer apoio contínuo.
Comenta aqui, qual a principal dificuldade que você encontra na avaliação/seguimento de pacientes frágeis em
hemodiálise?